na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, maio 11, 2011

panis et circenses - a moda pegou: mais churrasco pros companheiros!


recentemente, a secretaria estadual da agricultura – seagri -, no centro administrativo da bahia, foi ocupada por centenas de integrantes do movimento dos trabalhadores sem terra como parte das celebrações (?) do “abril vermelho”, uma ação para marcar o chamado massacre de eldorado dos carajás, quando 19 pessoas morreram, no pará. acampados, nos jardins e nas dependências do prédio, os “sem terra” foram tratados a pão de ló, como ilustres (até certo ponto) visitantes. na falta de acomodações melhores, os acampados – não seria melhor dizer ‘assentados’? – receberam, da secretaria, 600 quilos diários de carne para serem charqueadas, churrasqueadas ou qualquer outro tratamento culinário que o valha, banheiros químicos e um convite para participar de uma sessão especial na assembléia legislativa à qual compareceram munidos de foices, facões, enxadas e o escambau. foram embora e deixaram para trás um rastro de destruição na vegetação circundante digna de qualquer “latifundiário improdutivo” que derruba desde touceiras de capim a grandes árvores a troco de nada além de uma interrogação no ministério público: a troco de quê, receberam as benesses?

a resposta governamental foi imediata: “fazem parte de um movimento social e é obrigação do governo tratá-los dignamente. dando-lhes acomodação e estrutura.” massa! tem toda a razão e a explicação é perfeitamente plausível não tivessem os “sem terra” construído a reputação de depredadores que atualmente carregam. como formigas (ou o brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o brasil!), eles deixam um rastro de destruição na maioria dos lugares por onde passam (capim só cresce onde boi não pisa!), em atos de vandalismo que os governos (em suas três esferas: federal, estadual e municipal) e os parlamentares se recusam a enxergar. afinal, é a companheirada mostrando serviço (mesmo que em prol de ninguém e de nada).

pois bem. acabou por aí? nem pensar. estimulados pelo sucesso da primeira (não foi e nem será a primeira mas, neste caso, deixemos como se fosse) turma, mil e quinhentas pessoas da pastoral da terra (arrrgh!) voltaram a ocupar a receptiva secretaria. reivindicações? as mesmas do mst de quem a pastoral, ligada aos movimentos dos trabalhadores desempregados e dos trabalhadores assentados, acampados e quilombolas não deixa de ser um braço. isto, anteontem, ontem, essa leva foi engrossada por mais duas ou três centenas. em comum, além da invasão (ou visita, como preferem alguns), a determinação de ganhar também carne para a churrascada, banheiros químicos, o direito à depredação da área verde e, talvez, um convite para uma “sessão especial” qualquer na assembléia. é bom demais da conta!

o melhor de tudo é que a avacalhação generalizada é bem vinda, bem vista e benquista. pelo menos sob a ótica do discurso de posse, semana passada, da secretária de políticas para mulheres do estado da bahia, ex-militante do mst. nele (no discurso), a ex sem terra, num incentivo direto a essas ocupações, afirmou que, se sua secretaria fosse invadida por integrantes dos movimentos sociais, iria “parabenizar” os agora antigos companheiros “pela iniciativa de fazer o protesto da ocupação porque é legítimo”. assim, até eu protesto.

pior é que o ministério público (mp) pediu e, até agora, não recebeu nenhuma explicação sobre a compra da carne, o aluguel dos banheiros químicos e as justificativas para tal atitude da seagri. mas tudo bem. afinal o mp é um pé no saco, só sabe criar picuinhas na defesa da probidade administrativa, na transparência das ações e na proteção do bolso do restante da população que não faz parte da companheirada cujas bandeiras tremulam pelos quatro cantos de todo lugar deste imenso rincão.

a seagri foi “visitada”, “ocupada” ou invadida – escolham a opção que lhes aprouver – há vinte dias atrás. à época, os manifestantes se restringiram ao estacionamento e entorno do órgão. agora, eles ocupam corredores, escadarias e até a entrada do chefe do gabinete do secretário eduardo salles. interessante notar que, nos dois casos, tanto o governador quanto o titular da seagri estavam em viagem oficial (neste, eles se encontram na itália e, naquele, na china).

por essas e outras, continua na minha cabeça um certo poema...

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