na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, abril 28, 2016

a gênese do brasileirês (o advento, segundo patinhas)

conheço bem o ex-bendengó, jornalista e homem de marketing joão santana. este é o vulgo registrado no cartório de patinhas. um sujeito calmo, metódico, de gesto bem alinhado e que já chegou a ser conhecido nas antigas redações recheadas de olivettis, remingtons e teletipos  e telexes como "tripé", "pé de mesa" e outros nem tão claros assim. mas isto é pré história.

do que esta postagem pretende falar e que envolve patinhas (tangencialmente, já que parte do crédito vai para duda "briga de galo" mendonça, outro homem de marketing que cunhou o palavrão "marqueteiro") é a gênese porque passa o linguajar português no brasil de dilma, lula, temer e cunha. pobre língua tão vilipendiada, tão ultrajada, tão estuprada por aqueles (eles mesmos) que a pretendem bela a ponto de sofrer assaltos tão avassaladores. pior é que encontram seguidores entre jornalistas.

dia desses, já faz um bom tempo, me queixei, como venho me queixando, desse palavreado tinto de vermelho petê que cunhou o verbete 'presidenta' só porque uma mulher ascendeu ao cargo máximo desta republiqueta verdamarelo. todo o brasil dos cumpanhêros e cumpanhêras vibrou e adotou a tal palavrinha como o supra sumo da 'finesse' linguística. 

acompanhando a onda, alguns neo-jornalistas, recém egressos da faculdade e recém ingressados no metiê das redações onde não mais pontuam a barulheira das máquinas de escrever nem os frenéticos estalidos dos telexes e teletipos ou a fumaceira dos hollywoods, ministers, continental sem filtro e, às vezes, só para transgredir, alguma cannabis sativa que se misturava ao tabaco, embarcaram de vez nesse negócio de encher a língua pátria (caetano veloso a quer mátria) de novos palavrões. alguns, calcados numa versão livre dos termos anglo-saxônicos que regem a tecnologia da informação; outros, apenas para seguir o modismo - quer dizer, seguindo a manada (melhor dizendo, seguindo a tropa).

Assim, carregar (um arquivo) passou a ser "upar"; apagar (um erro de digitação, uma informação incorreta) virou "deletar"; mandar uma mensagem do aplicativo mais comum é agora uma das expressões mais correntes no diálogo virtual: "te mando um zap!" e la nave va!

perplexo, me deparei, há algumas semanas, quando um repórter jogou na minha cara, quer dizer, tascou no seu texto para ser lido on-line, um "feminicídio". chocado, imaginei estar sonhando, passando por uma crise de senilidade ou então lombrado por ter fumado um baseado maior do que o usual. mas aí, me lembrei que nunca experimentei nem um "pau" sequer de um béck. me arrepiei todo mas deixei a coisa passar. vai ver que era só um espasmo qualquer do tal escriba (ele sim, deve ter fumado algum ou cheirado um pouco de orégano). 

nem bem duas semanas se passaram e lá vou eu, na minha ronda inútil pelos sites e blogs em busca de algo interessante nas notícias. daí que meus infelizes olhos se deparam com a chamada trágica: "homem mata sogra e esfaqueia ex-mulher em amaralina". a miséria humana é extremamente atrativa. muito mais quando é a dos outros. como ex-repórter policial (verdade! fui repórter de polícia um dia!), corro sedento para a notícia e eis que fico estarrecido (não com o crime, a morte agora é banal demais para estarrecer quem quer que seja!) com o fechamento da notícia: ("... o delegado fulano ficou encarregado de investigar o feminicídio"). danou-se!
com o palavrão "presidenta" patinhas fez escola. falta pouco para estabelecermos definitivamente que feminino de estudante é estudanta; que a fêmea do elefante é elefanta; que o macho da formiga é formigo e vamos por aí.

valha-me deus, nossa senhora! com essa gênese,

daqui mais um pouco chega o apocalipse!




segunda-feira, abril 18, 2016

o perigo de se pedalar na republica brasiliana

nunca morri de amores por aquela senhora que se aboleta no palácio do planalto central e que seus admiradores - mesmo os mais letrados - apelidaram de "presidenta". também não morro de amores pelo sorriso vampiresco do sujeito escolhido para ser o seu segundo e que, por isso mesmo, ocupa um outro palácio planaltino. menos, bem menos ainda, pelo carioca representante-mor da vagabundagem política que se tornou rotineira no país. simpatias à parte, o espetáculo grotesco oferecido na tarde/noite deste domingo (que alguns pressupõem histórico) na câmara dos deputados, lá em brasilha, me deixou num estado de depressão digno de um sujeito que começa a subir o cadafalso.

no caso da tal senhora, vai que o problema dela não é a sua arrogância contumaz, não é a sua incompetência como gestora ou sua submissão ao seu criador. deve ter sido, simplesmente, o peso monstruoso do crime cometido contra a língua portuguesa quando pespegaram-lhe nas costas o aposto de "presidenta". uma palavra "monstra". Deixemos de lado as questões linguísticas e de personalidade até porque não tenho sequer resquício de especialização para tais julgamentos.

o espetáculo proporcionado por cunha e seus pares foi, como disse lá em cima, deprimente. até mesmo para um sujeito razoavelmente bem humorado como eu. pra começo de conversa - e já estamos no meio dela - não entendi a razão dos 30 segundos para se dizer "sim" ou "não". ninguém respeitou o cronômetro. todos tinham necessidade de homenagear entes queridos não importava se vivos ou mortos, cidades, vilas, vilarejos e, quem sabe?, animaizinhos de estimação. isto sem contar com as inúmeras citações de cunho religioso. eu não imaginava, nem de longe, que a câmara dos deputados era tão ciosa da presença do onipotente até ontem. nunca, na história deste país (lembra, lula?) o senhor de todas as coisas foi tão lembrado. um certo cantor de axé que se metamorfoseou de pastor evangélico soltou a pérola das pérolas: "a soberba 'procede' a queda" disse o tal. eu sempre soube que "preceder" é uma coisa e "proceder", outra. no entanto, nesses tempos de novidades como a palavra presidenta...

mas não foi só ele que nos brindou com essas coisas. houveram muitos outros. então, deixemo-lo de lado. pior mesmo era ter que assestar o olhar na cara de eduardo cunha e notar a sua indiferença, a sua impavidez diante daqueles que, dedo em riste, apontavam-no como mentor de toda a pantomima apenas para garantir a sua sobrevivência sob o sol de brasilha e do rídejanêro sem ter de vê-lo nascer quadrado sob os olhos amendoados do japonês da federal. o sujeito não mexia um músculo sequer a não ser aqueles responsáveis pelo esgar de cinismo proporcionado pelo risinho de canto de boca com que ele, de vez em sempre, nos brindava. o desprezo que ele deve ter pela moral deve ser do tamanho do universo. e seu exército? teve até um dos seus capitães que profetizou a sua entrada para a história do brasil. só não disse por qual porta.

enfim, apesar de todas as homenagens, beijos enviados com atraso ao filho esquecido, saudações a martin luther king que, se vivo fosse pediria pra morrer outra vez e odes a lugares recônditos sempre citados como "minha terra amada" e etecétera e tal, ficou claro como as águas do rio doce que em, brasilha, no que se refere a política, é muito, muito perigoso andar de bicicleta.