na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, abril 02, 2013

troca de gentilezas entreouvidas na fonte nova (quer dizer, no engradado da itaipaiva)

o estádio octávio mangabeira, que viria a se tornar o estádio da fonte nova, em salvador, não existe mais. em seu lugar e em nome da modernidade exigida pela fifa erigiu-se um monumento (?) que, a princípio, preservaria o nome e o apelido do local. mas, como cantava caetano veloso, prevaleceu a força da grana que ergue e destrói coisas belas. implodida, a fonte nova, fênix do século 21, renasceu da poeira e dos escombros da sua própria história transformada em arena modernosa. e os gladiadores nem esperaram a inauguração da arena para começar os treinos.
já na venda de ingressos a arena mostra a que veio e faz valer o significado da palavra. gentilezas mui gentis foram trocadas entre policiais e o populacho sedento de espetáculo e devidamente registrada pelos jornalistas sedentos da trivialidade em que transformamos as cenas de violência. os diálogos entre os cassetetes (antigamente conhecidos como "fantas" numa alusão infeliz a um refrigerante que sonhava em ser de laranja) e as costelas, entre os punhos e mãos dos representantes das autoridades engabinetadas e as carantonhas sedentas de afagos de bahias e vitórias foram assim... qualquer nota.
vamos tentar transcrever trechos de um desses diálogos:

(torcedor do bahia se dirige a um policial da choque, rondesp ou coisa que o valha e pede informações):
- "amigo, aqui tá vendendo schinka?"
(policial, com um sorriso nos lábios, mostra os caninos afiados e o cassetete responde): 
- "plaft!"
(o torcedor, não se dá por vencido, passa a mão na costela e estimula a cordialidade policialesca):
- "e o ingresso pra arquibancada superior a gente pode pegar no mesmo guichê?"
(policial, ainda mais educadamente, abre a mão e acerta-o no cangote, com toda a gentileza):
- plaft!!!
(orelha sangrando, um corte no joelho, a costela fissurada depois de mais umas duas perguntas e respostas corteses, o torcedor não se dá por vencido e agradece tamanha civilidade):
- bacana, muito obrigado, cara! agora, parece que você tá perdendo o jeito! não doeu!!!! (vai ver que ele se lembrava daquelas birras de criança quando a gente leva uma porrada mas, só por vingança, marra mesmo, com toda a dor do mundo, ensaiava um sorriso e largava essa bendita frase: não doeu!).
..........
no dia seguinte, a cara de garoto propaganda do secretário de segurança pública do estado de espírito chamado bahia - por enquanto - sorria a justificativa para tanta malemolência estapeada ao deusdará: "nós apenas tomamos medidas para proteger o cidadão".
é. verdade! pimenta no asterisco dos outros é refresco. vai uma itaipava aí?