na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, junho 29, 2005

detonando a república?

ética. palavrinha danada de boa de se aplicar...nos outros. na verdade, o que é gostoso de se aplicar aos desafetos não é o conceito emanado pela dita cuja e sim, a falta dele. assim falava o pt de dirceus, suplicys, lulas e genoínos genuinamente éticos. pelo menos em tese. havia todo um ritual ético-petista ao clamar por transparência, ao exigir cpi's, ao gritar por decência na condução da coisa chamada pública e ao exibir, com pompa e circunstância, toda a ética ilibada de guerrilheiros da pátria. e o foram a um certo modo e há um certo tempo.
no final das contas, a ética sucumbiu ao poder e a sua queda arrastou o tapete da república petista deixando às claras o lado escuro do belo discurso que chegou ao planalto dando ares de maturidade à democracia que, paradoxalmente, os seus autores ajudaram, e muito, a construir. é triste a análise. é mais triste ainda a reafirmação de um antiquíssimo axioma de que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
admirável mundo novo este em que um cafajeste notoriamente acafajestado chegue à tribuna e imploda pilares com pose de ator mambembe de produção de oitava categoria. e que domínio mostrou esse canastrão! e que dominados ficaram acusados e acusadores no picadeiro armado pelo pseudo cantor de operetas! que lírica a reação e quão impávido ficou o colosso a quem pretendiam acuar.
uma pena para a biografia de tão ilustres personagens!

pedaços

na maioria das vezes, a gente tem a impressão que as pessoas que passam pela nossa vida, simplesmente passaram. é uma impressão tão arraigada, tão conceitual que se torna uma daquelas verdades absurdamente absolutas. "o que passou, passou". assim o dizemos sempre. é a verdade mais mentirosa que conhecemos. você pode até discordar agora. amanhã, quem sabe?, reverá o seu pensamento.
quem passa por nós - por nossa vida, sejamos claros - sempre nos arranca um naco e, quase sempre, um naco valioso. pois é, maria. você passou em mim, nos passamos em nós, dez bons anos de altos e baixos, mais baixos do que altos. e agora, outros tantos anos depois, espertamente, você conseguiu fazer com eu revisse o ponto de vista elaborado aí no alto. faz parte do seu ser.
eu sempre achei que toda relação que acabou estaria - pelo menos tecnicamente - acabada. não estava. e a prova de que não estava é que você se mandou desse mundo como o conhecemos, foi conhecer novos lugares, novas paisagens levando junto uma coisa pra mim até então, inadmissível: um pedaço de mim. tudo bem que me deixou algumas outras coisas como uma forma de compensação. mas o que compensa a dor que fica junto, calada, silenciosamente amargando uma das muitas trilhas da vida?
espero que esse pedaço meu que você levou consigo tenha sido um pedaço bom. uma daquelas facetas de "gente boa" que às vezes eu consigo ter. espero também ter várias delas em estoque pois, provavelmente, outras pessoas tenderão a me tirar mais nacos como um dia eu irei tirar delas.
falo tanto de um pedaço de mim. e continuo errando. no fundo, ao ir-se para outras plagas, outros universos, você se levou consigo e nos deixou aqui para carpir na sua ausência os nossos erros. você apenas se levou e se deixou levar. mansa. sofrida. amada. elogio post-mortem? não. apenas reconhecimento.
reconheço que as mulheres, principalmente as mulheres se envolvem mais, se doam mais. mas nessas questões de amores, elas são soberanas: marcam muito mais ainda. por isso quando se vão arrancam, do fundo de nós, mesmo em meio a atritos, pedaços enormes da alma. por isso, dona maria, de onde quer que você esteja nos olhando, guarde bem esse pedaço de mim. ainda vou reclamá-lo.
DESCANSE EM PAZ, COMPANHEIRA!