na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, março 28, 2006

ésopo adaptado a brasilha - e o pombo matou o gavião

amanhecí pensativo. um fato corriqueiro na natureza mas insólito quando visto numa grande cidade cujas árvores tem troncos de cimento e flores de parabólico alumínio me fez ficar assim pensativo. sorumbático. um gavião caçou um pombo e fez dele a piéce de resisténce de seu almoço servido no anteparo do ar-condicionado do oitavo andar da árvore/edifício em que trabalho e não fico rico (parafraseando as paralelas de belchior). desse presumido lauto almoço que pode muito bem ter sido um jantar ou mesmo café da manhã, sobraram penas, intestinos, duas tristes patinhas a acenarem ao vento um adeus à vida e, pasmem! crueldade das crueldades: a cabeça do pombo com olhos poética e tragicamente entreabertos olhando pros meus olhos curiosos. olhos que devem guardar na memória da morte o riso cruel do seu algoz de bico escancarado a comer-lhe as carnes e ignorar-lhe as entranhas (até nisso sobra o nojo visceral). o gavião matou o pombo. e daí? na natureza isto é o trivial. de novo: isto me deixou pensativo.
em "brasilha", o pombo matou o gavião. não é a primeira vez. aliás, é sim, a primeira vez. porque, da outra, o pombo feriu de morte mas não matou. os urubus o fizeram. com a galhardia dos urubus que, por sinal, não gostam de matar. preferem os já mortos. não dão tanto trabalho e já vem condimentados pela putrefação. pois bem, no caso de brasilha, o pombo não tinha asas, penas ou quaisquer outros adereços inerentes às columbinas. a única coisa em comum, era a inocência (presumida) de ambos. o pombo lá de brasilha era, até prova em contrário, um pombo limpo (digo isto porque no idioma policialês pombo sujo equivale sempre a pobre - independente da cor - e significa vagabundo) e trabalhava como caseiro do ninho do gavião. era, portanto, um pombo até certo ponto, temerário. já imaginou? pombo trabalhando pra gavião? nem o bíblico daniel teria essa coragem toda! pois bem. esse pombo limpo detonou um dos maiores gaviões da floresta de brasilha e pôs em risco o gavião-rei de penacho grisalho que quase lhe cobre o bico. a bem da verdade, o que causou surpresa em mim e frisson nas ilhotas que cercam brasilha é que vários outros gaviões menores já haviam sido derrubados em pleno vôo - mas por outros gaviões - jamais por um pombo. e olhe que teve um que não era nem tão menor assim. era do tamanho ou talvez menor do que este de quem eu tento contar a desdita e, ao mesmo tempo, fazer elegia ao pombo. ninguém jamais havia visto algo assim como suponho ter dito antes. como o pombo conseguiu derrubar tamanho gavião? aí é que vem o melhor.
o gavião, de quem eu falo - ou melhor, escrevo - como os outros gaviões que estrelam os céus daquele lugar, vinha de outras plagas, de outros ribeirões e era - assim o parecia - experiente. tinha manhas. mas, como todos os outros que trocaram suas florestas natais pela exuberância brasilhense, não esquecera suas origens e, mesmo mais cauteloso que os outros, não abandonou certos salutares hábitos, alguns prazeres que de tão prazeirosos, eram inomináveis. não vem ao caso. pelo menos, não agora. em bandos, costumavam pousar num ninho coletivo para farras homéricas e ali, em meio aos eflúvios etílicos que sempre acompanhavam essas reuniões, decidiam os destinos de toda a passarinhada e ainda por cima, embolsavam algum.
apesar da dêbacle de muitos importantes membros dessa confraria rapinal, esse nosso gavião resistia impávido a todas as tsunamis avassaladoras que passaram por e sobre brasilha. até o pombo dessa conversa resolver abrir o bico. e como abriu. e do seu bico saiu o tiro mortal que abateu o nosso gavião. mas, antes disso...minto, quando o pombo começou a arrulhar arrepiaram-se todas as penas das cabeças coroadas da rapinagem sobrevivente e todos eles assestaram suas garras e bicos ferozes em direção ao indigitado pombo arrulhador. até mesmo os gaviões togados (esses não se metiam - ao que se sabe mas não se confirma - em bandalheiras de esquinas) tentaram calar o bico do tal do pombo. chegaram a silenciá-lo com uma mordaça legal mas, o mal estava feito. os arrulhos chegaram aos ouvidos das corujas que espreitam na calada da noite e repercutiram pelos bicos dos papagaios faladores que também costumam habitar altos galhos de brasilha. os gaviões togados sabiamente se retraíram um pouco em sua pompa e circunstância enquanto os outros, já auxiliados por gaviões menores esquadrinhavam todos os cantos e recantos da vidinha caseira do pombo caseiro do gavião ferido e agonizante. descobriram que ele nascera de ninho bastardo, de ovo não reconhecido, que estocara trinta mil milhos e por aí afora.
apesar de todos os esforços, o tiro impulsionado pelos arrulhos do pombo revelou-se mortal e o grande gavião morreu. numa conversa com amigos de pombal e alguns papagaios que acabaram tornando-se co-algozes do grande gavião, o pombo arrulhara antes que arrulharia até a morte. agora, em nova conversa, já carpindo o defuntado, o pombo arrulha: "ficou provado que o lado mais fraco não é o lado de um simples caseiro. o lado mais fraco é o lado da mentira".
contei toda essa embromação acima só para dizer o por quê de ter ficado pensativo ao descobrir um pombo estraçalhado por um gavião no anteparo do ar-condicionado do prédio em que trabalho: que mundo é este, em que simples caseiros derrubam ministros e põem de pernas bambas e orelhas em pé ilustríssimas e altíssimas figuras de um país? claro, como escreví antes, houve um outro caso, de um outro pombo, nesse caso, motorista e não caseiro, que alvejou profundamente um outro figuraço e detonou todo um processo que culminou com sua queda. precisamos, urgentemente, eleger alguns oficiais de limpeza de aeroportos que não se incomodam de devolver aos seus legítimos donos alguns milhares de dólares encontrados em banheiros; precisamos encontrar algumas centenas de francenildos caseiros, outros tantos egbertos motoristas e assim, darmos uma faxinada geral nesse lugar. se bem que temos uma outra alternativa: se nos sentirmos um tanto quanto inseguros podemos correr pra casa e demitir a faxineira, o zelador, o lavador de carro por que, senão o bicho pode pegar.

segunda-feira, março 27, 2006

rhyno's dancing (de como o congresso enlameia até quem não é porco)

preconceitos à parte, algo em mim se partiu ao ver uma certa gorducha estrebuchando uma dança estranha no picadeiro da câmara dos deputados lá em 'brasilha'. sem quê nem pra quê, me peguei estupefacto fazendo mil e uma conjecturas: seria a dança da chuva? ou a dança da fertilidade? ou do acasalamento? ou a dança da dança? que diabos dançava ela? pensei até numa reencarnação ou renascimento, por assim dizer, da carla perez alguns xandis mais velha: a pança enorme, os oxigenados cabelos mais curtos, a bunda algumas (várias) vezes maior. com tudo em cima: a queixada em cima dos peitos, os peitos em cima da barriga e a barriga em cima de...bem, deixemos pra lá estes exercícios anatômico-imaginativos e ponhamo-nos a rever (muito embora seja extremo sacrifício) a cena escatológica: vestida numa roupa condizente com a sua performance, a nobilíssima deputada/dançarina festejava. o que ela festejava, em verdade, em verdade vos digo, ignaros e raros frequentadores desta página/telinha, era o nosso vilipêndio moral perpetrado por aqueles em quem depositamos incontáveis votinhos que os levaram aos píncaros da glória da imoralidade. e o sorriso dela? camarada? que sorrisão tratado a laser e o caceteaquatro bem distante da realidade banguela dessa gente que, enganada a telhas, dentaduras mal feitas em protético de esquina e camisas padrão de time espanhol com direito a nome de ronaldinho estampado nas costas entregou em urnas eletrônicas os votos necessários à perpetuação da bandalheira escancarada que assola 'brasilha' essa moça ostentava enquanto dançava! e o brilho de felicidade dos olhos dela?! só ví tanta felicidade junta numa cara só quando o sarney, fazendo de conta que não era com ele, pespegou-se a faixa presidencial pela defuncção de tancredo neves. ninguém viu porque aquele bigodão, tipo pára-choque de carreta, escondia. mas eu pressentia através do meu desconfiômetro de risadas largas escondidas atrás de bigodes vastos. e a desinfeliz da deputada nem bigode tem. e, se o tem, raspou para a apresentação. e o pior é que depois da sioux, ianomami, cinta larga ou sejaláquediabofor acabou, ela, candidamente explicou que comemorava a vitória da justiça! justiiiiiçaaaa! que justiça?... da moralidade. que moralidade, cara pálida?! aquela que livra a cara do escroto (no bom sentido - se é que há algum bom sentido nisto) e joga o inocente na cadeia?
talvez a gorducha esteja certa. afinal, tem aquela menina escrotíssima que entrou no mercado e roubou um negocim lá pro filhin dela distrair as idéias do estômago colado na espinha. por uma questão de justiça, a polícia agiu rápido, ela foi presa, o pacote de biscoitos meio aberto, não foi devolvido porque era a prova cabal do crime e ela foi pra cadeia. saiu semana passada. também, quem manda roubar biscoito?! tem que roubar é do povo! roubar a consciência, o direito, a honra, a vergonha... tem mais é que receber propina, falsificar documentos e acabar com a amazônia, com a mata atlântica, escravizar nordestinos que teimam em fazer a vida (em todos os sentidos) no sul maravilha e acabam em fazendas cujos donos tem endereços funcionais em 'brasilha' (tou me cansando dessa cidade!) porque isto não é crime, não é amoral. a bem da verdade, dá até um certo charme entrar num restaurante, andar numa avenida movimentada e ser reconhecido com reconhecida inveja: "aquele ali, aquela ali é fulana de tal, parlamentar. meteu a mão aí, por baixo, nuns cinco milhão!" certo charme porra nenhuma! dá mesmo é orgulho!
então por que a gorduchinha (e que me perdoem os gordinhos, desde lá de cima do começo desse negócio) não teria o direito de comemorar uma sacanagenzinha com o povo brasileiro? idiota foi o caseiro. de tão besta que é resolveu dizer o que disse do chefe e aí juntou um exército de defensores da moral, arapongas, araras, tucanos, macacos-prego, enfim toda a fauna brasilhense se transformou numa legião de combatentes da moral e dos bons costumes perpetrados naquelas bandas 'prassalto central (quero dizer planalto central) e mostraram que ele, sim. ele, é o verdadeiro bandido. como ousa mostrar as entranhas da moralidade dessa forma? como se atreve a apontar com seu dedo bastardo as esquinas (dá-lhe jeanny corner!) do poder que de tão puro, fede? pois então francenildo (pobre até de nome! teve de juntar dois pra se tornar um), dane-se na sua humilhante pobreza e na sua indigna necessidade de ser honesto e assim, tentar, em nome de milhões, resgatar a dignidade de um (país)! falta de aviso não foi. fica lá com os 30 mil reais que teu pai - que também te renega - te fez o favor de botar na conta poupança que tens e pede desculpas: perdoa-me pailocci, pois pequei! e depois corre pra casa dos teus amigos onde te escondes e vai assistir à vitoriosa gorduchinha na performance 'global rhyno's dancing'.

quarta-feira, março 15, 2006

desculpe, joão ubaldo, mas viva o povo brasileiro!

é, mestre joão, tenho mesmo que pedir, implorar, suplicar desculpas pela apropriação indevida do seu título mas, não se considere desapropriado e muito menos, vilipendiado por este idiota aqui. é que as coisas aqui do lado de baixo do equador me entusiasmam, me surpreendem tanto que não tenho outro jeito senão bradar - para seu desespero -: "viva o povo brasileiro!"
mestre joão, eu já ví o lulaládasilva conversando (?) com a rainha da inglaterra; com reis africanos (será que andou em busca de raízes pra feitiço de reeleição?) várias incontáveis vezes. também já ví o mesmo lulinhalápazeamordasilva desconversando das coisas mensalônicas urdidas por seu primeiro melhor amigo ministro zé dirceu -pobre marília (ou melhor, brasília)! - e tchurma. já ví o operário deficiente físico (falta-lhe um dedo) que se descobriu presidente por força de termos fechado os olhos (à época, achávamos que os abríramos) e, consequentemente poderoso, se perguntar perplexo, se filho de presidente não podia se tornar milionário e negar veementemente que não sabia das transas (no bom sentido) do filho lá da silva com uma empresa enorme de telefonia. maravilhosa e sábia inocência!
também ví o nosso querido diadêmico lulinha paz e amor se aprochegar de um certo imbecil com ares napoleônicos que quer se tornar vitalício como el presidente de algum lugar aqui perto. chávez neles! ví muita coisa, mestre joão! mas, o que mais me deixou feliz, entusiasmado, abilolado de tanta admiração não foi nada disto não.
não foi o perdão dado pelos parlamentares aos parlamentares depois de um bocado de teatro; não foi a venezuela ir parar no sambódromo do rio de janeiro que depois foi ocupado pelo exército roubado em gloriosos fuzis e pistolas por nada heróicos guerrilheiros urbanos do pó carioca, nada disso. me deixou meditabundo de tanta felicidade a pose olímpica de duda 'não basta ser remédio, tem que ser gelol' mendonça, apoiado pelos seus brilhantes advogados, decidir que a forma como ele amealhou seus milhões -alguns muito direitinho e outros, nem tanto - não é da conta de ninguém. maravilhoso! divino duda 'não basta ser pai, tem que participar' mendonça quase me leva à apoplexia. que homem é esse, que com uma simples frase derrotou aqueles monstros da legalidade do congresso nacional? que herói é esse que, diante da empáfia e da soberbia daqueles poderosos defensores da honestidade brasiliana (mensalões, propinodutos e caixas dois, três e quatro nunca os macularam), não titubeou. não tremeu. não se deixou abater. derrotou-os, mansamente: "vossa excelência, sinto muito, não vou responder ". e todos calaram. dá-lhe duda! não basta ser pai - do lula, do dirceu, do delúbio e etc -, tem que participar!