na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, dezembro 17, 2015

what's up, doc?

confesso abestalhado que não sou usuário contumaz do aplicativo whatsapp mas, me confesso ainda mais abestalhado que começo a achar que a célebre frase atribuida a charles de gaulle afirmando que este não é país sério caberia como uma luva na justiça de sãpaulo ou, generalizando, na justiça brasileira. isto dito, fica patente aqui a minha paleontológica (já que sou um dinossauro da era moderna) revolta contra a decisão de suspender por 48 horas a utilização dos serviços do tal do zapzap.

o argumento acatado pelos homens togados lá de sampa pra suspender o zap só se sustenta pela "força da grana que ergue e destrói coisas belas" segundo caetano veloso. os argumentos partiram das operadoras de telefonia que, por verem sair voando alguns milhões de centavos oriundos de ligações não feitas e de mensagens não enviadas, sentiram no bolso o que pode fazer um mísero aplicativo e pediram aos sapientes men in black da corte paulista que fizesse cessar a sangria aos seus cofres nem que fosse por quarenta e oito horas. pimba! mais certeiro do que este, nenhum outro argumento o seria.

assim, o brasileiro, que adora caminhar na contramão do desenvolvimento, "sifu". vai ter de enviar sinais de fumaça, usar pombo correio ou então megafone pra convidar amigos pra balada, pra falar do trânsito ou até mesmo pra cutucar eduardo cunha (será que ele não estaria usando da sua influência para conseguir tal bloqueio?). o fato, é que a justiça paulista concordou em gênero, número (muitos números) e grau que as telefônicas estão certas (ganharam quanto pra chegar a isto - já que aqui, com uma graninha na frente em se plantando tudo dá?).

por mim, tudo bem, não uso tanto o tal do zapzap embora meu pobre telefone passe o dia inteiro rangendo os dentes com mensagens zapianas de toda origem. dos colegas de trabalho, dos desconhecidos que acham que me são caríssimos amigos íntimos, da minha família, do grupo de não sei onde que me incluiu sem me perguntar pelo meu aceite. só não me puseram no grupo dos ganhadores da mega sena. mas do serasa, spc, da malha fina do irpf... com certeza eu sou um dos primeiros signatários mesmo tentando, por todos os meios, evitá-los.

mas uma coisa, nessa história toda é extremamente positiva e sinaliza para novos tempos: a celeridade da justiça em se decidir a bloquear o aplicativo. gente, que rapidez! agora, só uma sugestão: durante essas 48 horas de profundo silêncio zapiano, vamos descobrir o maior número possível de juízes (de preferênci, paulistas) que usem o zap (ora, eles, mesmo sem assumir, também o utilizam) e, ao fim delas, assim que o zap voltar a funcionar, vamos torrar a paciência deles mandando mensagens com flores, aplausos e elogios para que eles saibam o tamanho do bem que fizeram ao país.e se algum reclamar, a gente faz que nem o coelho pernalonga quando enche o saco de hortelino trocaletras ou daquele bigodudo turrão e, com cara de inocente, manda um zap perguntando: whatsapp, doc?

Em tempo, as operadoras que pediram o bloqueio do zap, embora sejam todas elas conhecidas, não se permitiram identificar no pedido de bloqueio e daí? porque que a gente não aproveita para bloquea-las também?

p.s.: tem um lado bom: por 48 horas eles conseguiram evitar um monte de acidentes de trânsito ou de gente batendo a cara na porta.




terça-feira, dezembro 01, 2015

o martírio de rocinante ou de como se faz política e rádio na bahia


lembra do célebre cavalo de dom quixote, aquele chamado de rocinante? pois bem, um dos seus descendentes - pelo menos no que se refere ao gênero - acaba de se tornar o pivô de uma guerra política neste estado de espírito chamado bahia. como? quando? porque? bem, vamos começar do começo porque é sempre bom começar a se contar histórias desse jeito.

há, com uma certa tradição, uma feira agropecuária no parque de exposições de salvador, capital da bahia. o parque, como tal, não existe. é apenas um descampado enorme com alguns galpões cobiçado por especuladores imobiliários, construtores e dirigentes dos movimentos sociais vários que brotam em nosso país como flores de maio em abril. além de se prestar para shows de axé-evangélico-meigospel-music onde todos se rebolam louvando, ora a bunda ora a jah, javé e outras divindades menos, digamos assim, populares.

"forró do cardeal" o mártir da fenagro, valia 200 mil 
voltemos ao que interessa: o martírio do cavalo. começou, no último domingo, a tal da feira. e já no acender das luzes, o cavalo, provavelmente desavisado e sem se utilizar de e.p.i. algum acabou levando um choque na suíte-baia-barraco onde se hospedava e partiu célere pra goiás. pra quê? criou-se, a partir do acidente, uma luta ferrenha entre a prefeitura e o governo do estado (sucom x seagri) tendo como árbitro um conhecido apresentador de rádio e tv. a sucom, fez o primeiro movimento ao anunciar orgulhosamente o embargo imediato da feira.

acusando o pontapé na linha do gogó, o governo escalou seu mais traquejado atacante e revidou com um decreto (segundo alguns, ditatorial) desembargando o embargo e mandando o evento continuar como se nada houvesse ocorrido. aí entraram em campo outros contendores: dois deputados, ambos ex-qualquer coisa e absolutamente antagonistas, um, federal, defendendo o uso dos animais como há séculos o homem faz e o outro, estadual, totalmente contrário e considerando que um animal também é gente, dentro da filosofia magriniana - ramo pseudo filosófico ambiental criado pelo ex-ministro antonio rogério magri -  quer proibir até os vaqueiros de montarem seus cavalos e corram atrás do gado num ato de extrema crueldade para com esses pobres e inocentes seres.

aí entrou em campo um outro contendor para desempatar o baba: outro deputado (federal), irmão de um outro ex-ministro, perdeu preciosos passos no check-in do aeroporto onde voaria (a esta altura, já voou faz tempo) para, por telefone, acusar o governador de estar querendo provar que é mais macho que o prefeito, de estar deixando que "este chão é meu, nem boi lambe nem macaco trepa" ao desembargar tão bem feito embargo e que, caso outra tragédia tão trágica quanto a que vitimou o pobre do equino, campeão de várias jornadas e com mais filhos espalhados do que pelé em seus áureos tempos, seria réu como co-autor de homicídio (?) culposo.

e nesse teatro de pecuaristas, adentra o gramado ou relvado, mais uma vez, o tal apresentador. desta feita como um mediador: "foi um cavalo, sim senhor, senhor secretário (estava lá também o secretário de segurança que entrou de gaiato na contenda) mas, não existe o valor de amor sentimental?" disparou. meu deus, me acuda.

o pior é que a feira ainda vai durar a semana inteirinha e novos embates virão. eu nem me arrisco a dizer que tudo isto por causa da morte de um cavalo para que não me envolvam ou me processem. aliás, eu já corro o risco de ser processado porque citei apenas rocinante quando comecei este post. e os outros cavalos famosos dos quais nem toquei nos nomes a exemplo de pégaso, bucéfalo, baloubet de rouet ou até mesmo incitatus, do imperador romano calígula? a sorte que tenho é que todos eles já estão tão mortos quanto este que se tornou o mote para uma briga política, à exceção de pégaso que era e é apenas uma lenda, um mito grego e baloubet de bouet que, embora verdadeiro como o que morreu, eu não sei por onde anda depois de perder um torneio por uma refugada mal dada. falando nisso, qual era mesmo a cor do cavalo branco de napoleão?

enquanto isso, no olimpo lá do planalto central, atenas e zeus jogam seus dados para ver quem vai entrar na barca de caronte e embarcar para o hades. façam suas apostas porque, ao cabo e ao final, seremos todos perdedores.

sexta-feira, novembro 27, 2015

neve: macio e perfumado - o papel da constituição

ensinando o caminho das pedras
por esses dias, este nosso imenso brasilvaronilópátriamada revolveu-se e dividiu-se com a notícia da prisão de delcídio amaral, senador da república, devidamente chancelada pelo supremo tribunal federal. o negócio foi assim tão sério que os outros senadores, a começar pelo renan calheiros ficaram estupefactos e, na hora de chancelar a chancela do stf, decidiram-se (a maioria assim decidiu) pela manutenção do engaiolamento senatorial. e olhe que eles detém a prerrogativa de anular uma decisão assim. mas porque será que o fizeram? surto de honestidade e ética? epidemia de transparência? ou será que foi o efeito provocado pelo voto aberto? bom, seja lá o que quer que tenha acontecido, o fato é que votaram e mantiveram o pobre coitado do delcídio - cidinho, para os íntimos - na cadeia.

de qualquer sorte, quem saiu perdendo foi eduardo cunha que, por conta do efeito-cascata, efeito-dominó ou efeito-seja-lá-o-que-for, pode se ferrar nesse perrengue que passa no conselho de ética e que pode lhe custar, além do cargo, também o mandato. delcídio - cidinho, para uns tantos - está numa sala que chamam de cela, num gabinete chamado prisão e ainda perdeu o cargo de líder do governo no senado. aqui, na bahia de todos os santos e de todos os browns, a prisão de delcídio - cidinho, para os mais chegados - também deu o que falar. não é por menos já que baiano fala pelos cotovelos. assim, delcídio - cidinho, para os mais carinhosos - virou assunto de mesa de bar, virou fofoca na praça da piedade, no beco dos artistas e na ladeira da montanha. claro que foi notícia em todos os meios de comunicação ou naquilo que políticos profissionais de camisa vermelha e estrela no peito convencionaram chamar de a "grande mídia".

pois bem, repercutiu tanto que um procurador de justiça baiano ligou para um programa de rádio, desses que discutem até mesmo o sexo dos anjos, e dedicou uma boa meia hora pra falar sobre o assunto numa defesa intransigente do delcídio - cidinho, para os livres - e numa crítica exacerbada aos juízes supremos que tomaram tal decisão. dizia ele ao apresentador e aos rádio-ouvintes (existe um tevê-ouvinte?) que o supremo acabara de rasgar ("lascar" como baianamente se fala) a constituição ao prender um parlamentar em pleno exercício do mandato; que o supremo acabara de quebrar o equilíbrio entre os poderes e etc, etc, etc. bom, o nobre jurista dizia ou tentava dizer que o supremo cometeu um supremo sacrilégio.

na sua argumentação, o procurador procurou mostrar que delcídio - cidinho, para alguns - não cometeu nenhum crime hediondo. tudo bem que ele podia ser enquadrado por formação de quadrilha, incitação ao crime, participação em organização criminosa e coisa e tal mas isso não chega a comprometer a sua reputação ilibada de senador a ponto de enviá-lo do gabinete senatorial direto para a "prisão" onde hoje amarga uns dias. e a conversa rolou, como eu afirmei, uma boa meia hora com esse discurso altamente encorajador no sentido de acreditar e confiar na justiça e nas instituições brasileiras coisa que o povo lá de brasilha se acaba de rir quando ouve algo assim.

finalizando, um rádio-ouvinte (existe mesmo essa figura?) perguntou então ao causídico procurador o
sugestão do procurador
que deveria se fazer então com uma constituição antiga e caquética como a nossa. a resposta eloquente do procurador foi a coisa mais inacreditável que meus ouvidos - que a terra há de comer - jamais imaginariam saindo da boca de quem saiu: "leva pro banheiro e se limpa com ela depois de fazer cocô" resposta justa de um procurador da justiça que, segundos antes fazia colérica defesa da constituição que no apagar das luzes ele transformou em papel higiênico.

quarta-feira, novembro 25, 2015

dies irae, mariana!

lama de mariana em praia capixaba: banhistas aprovam
alguma coisa acontece no meu coração quando encaro os mares de lama que se espraiam brasil afora. dá um aperto assim daqueles que a lágrima desiste de escorrer pra não se envergonhar. se é no planalto central onde um enclave dominado por austeros bandidos manda em todo o país, cerca e refeniza aquela que deveria vir a ser a primeira mandatária, a administradora da nação que, por sua vez, se deixa refenizar e se torna moeda de troca num cambalacho sem igual. como diria aquele cidadão de voz roufenha "nunca na história deste país..." pois é, tem toda razão, ignatius.

a lama da samarco enterra a capacidade de  nos indignarmos
nunca na história deste país a terra tremeu tanto como agora. a terra e os homens. oremos por mariana e seu distrito e seus tantos ainda não contados mortos. a lama que saiu das minas enveredou por mares capixabas e matou, além de homens, animais, árvores, ervas santas e daninhas, matou a nossa capacidade de nos indignarmos. assim como o mar de lama que envolve brasilha não nos move uma palha sequer. na verdade, deixa-nos apenas com a vontade de fazer apostas: quem cai, quem não cai. não nos indignamos mais com a podridão que elegemos pois a culpa é nossa. chora mariana!

se não choram marias, clarices - preferem com dois "esses"? - chora, escondida, a dilma. por não
saber ser aquilo por que tanto lutou, ela chora nos recantos luxuosos do palácio onde não pontua, apenas habita. chora e, por vingança ou qualquer outro motivo, assassina o vernáculo, joga as metáforas na masmorra de um discurso enfadonho e sem sentido para um povo sem fala que não entende o que ela diz. reza, mariana!

tempestade à vista e nada da arca salvadora
no sub enclave das redomas brasilhanas, figurinhas coroadas travam um embate sangrento para ver quem tem menos sujeira sob as unhas e nesse embate se sobrepõe o sotaque carioca e cheio de malandragem de um homem que deveria presidir, com pompas e circunstâncias, a comissão de frente de uma penitenciária de segurança máxima, embora isto não exista no brasil. e é ele mesmo que, desanca e desautoriza seus adversários achincalhando-os olho no olho sem medo de dizer: você é igual a mim! lamenta, mariana!

mas nem tudo está perdido. a caixa econômica federal, com suas loterias - embora o jogo de azar seja proibido no país - arrecadou esta semana, só em um concurso da mega sena, 5,1 bilhões de reais para pagar um felizardo (provavelmente de um bolão de cartas marcadas como se sabe mas nunca se provou) pouco mais de 200 milhões. alegra-te mariana, pois este "alguéns" nem se lembrará da tua dor, nem das centenas de famílias que passarão por um período de míngua até a lama passar pelo rio doce e acabar com a vida por, pelo menos, uma dezena de anos. aposta, mariana!

vai que acabei de me lembrar de uma musiquinha pra elevar o moral nos tempos da minha longínqua juventude: "este é um país que vai pra frente...!"

quarta-feira, setembro 09, 2015

de banheiros, toilettes e mictórios

a bem da verdade e para me defender antecipadamente de quaisquer ilações ou de tentarem me pespegar o apelido de voyeur, aviso logo: jamais adentrei ou pretendi adentrar sem a devida autorização (escrito e expressa, carimbada em três vias) a nenhum banheiro feminino. este aviso é bem a propósito já que tratarei aqui do dito cujo e das suas diferenças para o seu similar destinado ao sexo oposto.

verdade seja dita (again and again) o banheiro feminino é todo metido a besta. a começar pela próprio indicativo nominal: "toillete". já aquele destinado aos homens - vixe!, não me chamem de preconceituoso - coitado, tem um dos apelidos mais horrendos do mundo das ditas necessidades fisiológicas: mictório. quer dizer, o homem (de novo?!) é permanentemente chamado de "mijão". se bem que, podia ser um pouco pior.

claro que mulheres devem ser tratadas com a delicadeza que as caracterizam. claro também que banheiro, sanitário, toalete, rest room ou seja lá que nome dêem (e dão) a esse espaço reservado tanto para limpeza (assepsia, diriam alguns chatos) quanto para depósito de sujeiras (dejetos, diriam os mesmos chatos) não tem que, necessariamente, ser aquela coisa transcendental cheirando a rosas (para esconder outros cheiros). mas, aqueles quartinhos destinados às abluções e dejeções masculinas tanto líquidas ou sólidas ou meio sei-lá-o-quê, são qualquer nota.


dia desses, apertado ao ponto de querer dar um nó no apêndice destinado à atividade mictórica em indivíduos já entrados numa certa idade e que já se esqueceram das outras utilidades, acabei sendo redirecionado por uma gentil atendente de delicatessen - nome fresco para os armazéns instalados em postos de combustível - para um banheiro feminino já que o masculino estava "em obras". surpresa das surpresas! o negócio - toillete - cheirava a lilases e rosas, limpo de dar vontade de nem sair. tudo nos conformes, rebrilhando, água cristalina no receptáculo de dejetos. me senti em outro mundo e, num espasmo sinestésico, me senti humilhado, vilipendiado, ultrajado, quando me vieram à memória as imagens e os cheiros dos banheiros que, à exceção do que fica na minha casa, frequento. se não chegam a ser imundos, não entusiasmam ninguém.
os da empresa que trabalho, por exemplo, não são fétidos, mas já carregam aquele odorzinho de "puta que pariu, esse cara come carniça!". outros, em outras delicatessen - qual o plural dessa palavra, meu bom deus das gramáticas? - desestimulam quaisquer pressões nos esfíncteres, nas bexigas e/ou movimentos peristálticos mais conhecidos pelo menos no nordeste brasileiro como vontade de jogar um barro. são um pesadelo, 

pois bem, nesse dia, descobri que as mulheres levam vantagem pra cacete (trocadilho mais infeliz!) no quesito "se aliviar" das suas necessidades básicas no tocante a expelir aquilo que o corpo já não precisa. são mais bem tratadas que nós do lado de cá porque aqueles que ficam no meio, a bem da verdade, tem seu paraíso particular, independente do grau de limpeza ou de aperto em que estejam.

sexta-feira, junho 26, 2015

necrofagia


em meio ao fuzuê dos festejos de são joão, uma notícia triste para os milhares (milhões, segundo a mídia especializada) de fãs de um certo cantor "sertanejo" lá das bandas de goiás que morreu em decorrência de um acidente automobilístico.

a partir do acidente desse rapaz deflagrou-se no brasil varonil um tsunami de bobagens. as redes de tv, as emissoras de rádio, os sítios da internet, as redes sociais todas elas foram inundadas por essa onda de necrofagia. postaram-se lamentações, murmúrios, rancores, mágoas e até projetos de lei já batizados com o nome do indigitado rapaz.

eu, cá do meu canto, acabei sendo bombardeado por essa crise sentimental que aflorou nessas terras tupiniquins por conta de um acidente que a mim, de verdade, não disse nada. não me bateu a passarinha muito embora tenha provocado a perda de duas vidas importantes para as famílias, para os amigos e até mesmo para os ouvidores do gênero musical (?) que ele perpetrava. perdemos um grande poeta. atentem para a profundidade dos seus versos: "bará, bará, beré, beré!" que beleza singela eles traduzem. nos levam até a transcender.

bem, deixando de lado sua poesia e sua tragédia, passemos à tragédia que ele nos legou: vídeos avassaladores da sua agonia ao ser retirado das ferragens, imagens chocantes da manipulação do seu corpo e até uma criatura que há 14 anos pariu uma criança, revelando-se mãe de um filho que ele provavelmente não levou na memória.

quem era afinal esse rapaz que mesmeriza a opinião pública desse país festeiro e necrófago? provavelmente, deve ter sido muito importante, alguém tipo jc cuja martírio reverenciamos até hoje e com quem ele, deve estar agora tentando encontrar nos labirintos do reino do criador. eu é que não o conheci. talvez não tivesse merecido a honra sequer de tê-lo ouvido esganiçando a voz nos bailes da vida, como diria fernando brant na voz de milton nascimento.

me permitam a burrice e perdoem-me pela santa ignorância: quantos foram os mortos a "balas perdidas", por acidentes diversos, por fomes medonhas enquanto o brasil varonil do nordeste se empanturrava de pamonha, se embriagava em licores e se lamuriava em frente às telas de lcd ou plasma vendo as imagens da superprodução em que se transformou o funeral desse rapaz (sua namorada, ou melhor, o funeral dela foi apenas coadjuvante. a sua tragédia foi bem menor e, ao que parece, a sua morte, insignificante diante da morte maior do falecido).

pior ainda foi a tragédia perpetrada por jornalistas afoitos para cobrir melhor o trágico evento. chegaram mesmo a manchetar que ele morrera, mas passava bem. a tristeza que cobria o país vitimizou o jornalismo.

agora, eu estou deverasmente apavorado: se a morte desse menino provocou tudo isto, imaginem quando aquele da voz fanhosa, mas que é chamado de rei for pra goiás prestar contas ao criador, o que será de nós?

algumas pérolas decorrentes desse evento cuja magnitude ainda não fomos capazes de compreender:

1) a apresentadora fátima bernardes, de tão consternada, matou também cristiano ronaldo (jogador de bola português, para quem não o conhece) por duas vezes;

2) jorge solla, deputado federal pela bahia com agá, propôs a criação de uma lei com o nome do falecido para obrigar a utilização do cinto de segurança até mesmo em carrinhos de rolemã (esqueceu-se que tal procedimento já é obrigatório) e também que as montadoras equipem os veículos com dispositivos que informem a não utilização do cinto;

3) a polícia anunciou que está tentando descobrir a autoria do wikileak do iml onde o corpo foi necropsiado e que vazou o vídeo do procedimento;

4) o jornalista responsável pela manchete noticiando que o cantor passava bem apesar de ter morrido  não foi encontrado para confirmar a informação.



terça-feira, março 24, 2015

alma latina

li, feliz da vida, em um desses vários jornais que batem à minha porta que, na itália, está se preparando um conjunto de leis draconianas para combater a corrupção. catzo, que felicidade me deu! sabe assim aquela felicidade que, de tão feliz, dá vontade de chorar? pois é, não foi bem essa mas chegou perto alguns anos luz. aí vem você para acabar com essa alegria e questiona: e daí, zé? o barato se deu na itália que fica longe praca daqui!

pois, eu te respondo na mesma moeda: somos primos! e aí, embora essa doença pareça ser um furúnculo na alma latina (vide todos os países com essa raiz e compreenderás o que digo), se eles lá pensaram em tomar vergonha na cara vai ver que um dia, um dia, nós, cá de baixo, talvez possamos pensar em fazer o mesmo. tudo bem que aqui a coisa é sistêmica, endêmica e tudo o mais que possa pretender a ser mas, quem sabe? quem sabe?

agora, tem um detalhezinho que pode até nos deixar orgulhosos: não é só do lado de baixo do equador (onde nos situamos) que isso de corrupção é lugar comum. mas a alma latina é corrompida por natureza e aí penam os franceses, os já citados italianos, os sugeridos chilenos - nem tanto quanto nós - argentinos então, nem se fala! pior ainda se formos citar os nossos ditatoriais vizinhos engalanados e que vivem a jactar-se bolivarianamente! isso sem contar os divididos espanhóis que se sabem mouros, catalães e o escambau a quatro menos espanhóis.

outro ponto a nosso favor é que, embora a itália esteja a estudar um conjunto de leis para combater a sua corrupção, nós aqui (leia-se dona dilmaignatiusdasilvarousseff) saimos na frente: já publicamos um pacote anticorrupção cuja importância foi diminuída por um ministro (agora tornado ex) distraído que não percebeu o quanto aquele calhamaço de papel cheio de boas intenções (iguais àquelas promessas que a gente faz todo final de ano) era fundamental pro ego desse brasilvaronil. e aí sua distração custou o seu emprego além de deixar toda uma comunidade parlamentar furibunda e plena da ira dos deuses do olimpo que é brasilha. afinal nem todo mundo gosta de ser elogiado em público.

arre égua! esse negócio de corruptos e corruptores enche a paciência de qualquer jó! nós nascemos assim e somos assim como diz aquela cantiga que gal costa eternizou em uma novela da globo - antigamente chamada de vênus platinada. e não tem jeito. quem não gostar que se mude pro japão onde os corruptos flagrados praticando este ato para nós tão caro tem que praticar o harakiri (a limpeza da honra e do nome pelo suicídio), ou então vá pra china onde não precisa se matar porque aí o governo mesmo se encarrega disso. o único senão é que, na china os caras tem o mau costume de cobrar da família do injustiçado o preço da bala.

se por um acaso, desses bem infelizes se implantasse aqui soluções como essas não ia sobrar ninguém pra fechar a porta. ou pra contar a história.




quarta-feira, fevereiro 11, 2015

de volta pro aconchego

nem em meus piores pesadelos eu pensei em voltar a este assunto. mas, como dizem os antigos - e os novos também - o mundo dá muitas voltas o que, numa tradução livre, significa: quem com muitas pedras mexe acaba levando uma na cabeça. é o meu caso. ou melhor, é o caso da dona moça apelidada de "presidenta" dilmaignáciodasilvarousseff. no seu primeiro reinado, a presidenta bem que tentou sacudir da 'cacunda' o seu mentor (ou criador) luizignatiusprimoetunico. quase, quase que conseguiu. faltou só uma tetéia pra desalojá-lo do palácio do planalto. se ela não conseguiu, pelo menos os escândalos sucessivos envolvendo nomes de cabeças coroadas bem próximas a ele, fizeram-no submergir. foi bom.

 
neste seu segundo reinado, com os escândalos cada vez mais escandalosos e a popularidade mais baixa do que o nível da cantareira, a pobre presidenta capitulou. para recuperar um filetezinho que seja dessa popularidade que seca tão rápido quanto os bolsos dos brasileiros diante dos aumentos de preços de combustíveis, de energia e de tudo o mais, está planejando um retorno às origens. beber da velha - e não tão boa - fonte de sabedoria que a criou.

assim, a "presidenta" que mais uma vez pretende vir à bahia e à baía passar o carnaval (você já foi à bahia, nego?), logo que voltar a brasilha, deve se encontrar com seu mentor luizignatiusluladasilva e com o mentor dele, joão santana, mais conhecido nas redações de jornais baianos pelo apelido de "patinhas" ou, para alguns mais chegados, "tripé" (nem me perguntem porque). vai se penitenciar pelos erros ou desacertos do primeiro reinado e por ter conseguido colocar em risco a hegemonia inaciana no planalto agora neste começo de segundo reinado. dona dilma, depois de muito refugar, vai aceitar os arreios. ponto para ignatius que vê a criatura voltar aos braços do criador.

bom pra ele, pro patinhas, talvez pra dilma e péssimo pra todos nós. quer dizer, "todos" neste contexto pode ser apenas uma pessoa: eu mesmo". absurdamente singularizado. preferiria mil vezes que ela continuasse no seu purgatório mas tentando (pelo menos isso) se rebelar ao jugo luliano. mas não, ela se rendeu tolamente, sem nem fazer de conta que queria lutar. mas não há de ser nada. um dia ela há de se dar conta de que, como diria o seu patrono, "nunca na história deste país" nada há de ser tão lastimado.


 

segunda-feira, fevereiro 09, 2015

neto kannario ou o fã-clube assoberbado?

não conheço, a não ser de ouvir falar, os dois personagens principais deste post. nunca me deram o prazer (por parte de um) ou o desprazer (logicamente, por parte do outro) de privar da sua amizade ou, no mínimo, de uma conversa, um aperto de mão - nem mesmo na campanha do "um" ou numa coletiva de imprensa no backstage do "outro". bom pra eles, melhor pra mim. no entanto, engraçado como meus posts carregam esta expressão, me causou espécie o empenho do alcaide desta cidade da bahia que já pariu tantos ilustres artistas, em fazer com que o moço que se diz artista se apresente na maior festa outrora popular do estado.

conhecido mais pelos furdunços e arruaças que promove, o rapaz que se autodenomina príncipe do gueto caminha muito mais ao largo da lei e da ordem do que o pensa e lê a nossa sociedade. protagonista de diversos "b.o's" em variadas ocasiões e delegacias, os seus seguidores adotam a violência como forma de manifestação de liberdade de expressão, de musicalidade e de vida. surpreende-me assim a decisão monocrática quase ditatorial do alcaide que tem algo que nos lembra, levemente, o personagem de duas faces de um romance muito famoso por conta de suas atitudes às vezes contraditórias. esta seria uma delas.

a despeito da forma educada como foi anunciada, entre sorrisos e a falsa doçura do mandante ao anunciar que "atendendo aos mais de não sei quantos mil pedidos no meu instagram, solicitei ao presidente da saltur" e bla-bla-bla, bla-bla-bla, que "inserisse o igor kannario na programação do carnaval "porque o povo gosta dele, eu gosto dele e vamos colocá-lo na grade momesca". ponto. faltou só o ancestral murro na mesa. pra chancelar a coisa. pra dar um cunho ainda mais oficial à contratação de alguém nem um pouco recomendável como "atração" dessa festança.

o fã das loucuras desse tal de kannario que, ao contrario do pássaro cujo nome e vida tem uma grafia e história mais simples e mais honrosa, devia estar trancafiado numa cela, não deve ter pensado direito no que ele está promovendo ou se pensou, esqueceu-se da sua posição e das conseqüências de tamanha admiração. o que o alcaide da cidade da bahia pensa afinal? não sei. sei apenas que em alguns momentos de sua trajetória tem feito escolhas equivocadas apenas para não dizer erradas. e esta, é uma delas. mas cada um comete a loucura que merece. nero tocou fogo em roma. neto bota kannario num pedestal. e la nave va.

aliás, vai ver que ele se espelhou numa publicação recente de emiliano josé, político militante antológico da esquerda baiana e brasileira, professor e jornalista que defendeu bravamente o moçoilo e seu direito de promover arruaças movido a marijuana e otras cositas más. e aí tá tudo certo, vida que segue, ainda que por caminhos tortuosos.




segunda-feira, janeiro 19, 2015

indignação atrasada

três dias depois do fuzilamento de marcos archer na indonésia - crônica de uma morte anunciada - minha indignação decidiu-se, finalmente, por acordar e dar o ar da sua graça. estou deverasmente indignado agora. independente desse "delay" de não-sei-quantas-horas, estou indignado. e por vários motivos, não pelo archer, em si, tendo em vista que concordo plenamente com uma cidadã, ex-ministra de alguma coisa no governo brasileiro que leu o que eu pensaria depois e antecipou-se à minha preguiça ao declarar peremptoriamente: "não era um herói, era um traficante!" Eita mulé danada pra ler pensamento!

claro que respeito a dor e o desconsolo da família que já vinha enlutando-se desde a prisão do archer
que se achou capaz de ficar impune - como se no brasil estivesse - ao entrar num país que pune, e de verdade, o tráfico de drogas dentro de suas fronteiras. enganou-se o archer como enganaram-se vários outros que, como ele, estão à espera dos disparos do pelotão de fuzilamento do governo indonésio que não tem, como se clama mundo afora, complacência alguma.

estou indignado, sim, com a indignação das nossas autoridades, com o discurso falsamente humanitário que diz que "a execução de marcos archer ensombrece as relações" entre os dois países e "fere a dignidade humana". ué, pra quê algo mais aviltante à dignidade humana do que a visão das nossas praças tomadas por mortos-vivos caminhando de um lado para o outro em busca de nada a não ser de mais uma pedrinha e, hosana!, uma carreirinha qualquer que lhes alivie do sofrimento que deve ser essa não-vida que levam. material fartamente fornecido por outros marcos que não se arriscam voar para a indonésia pois por aqui é mais seguro e a pena de morte só vale pros outros (aqueles que se arriscam a não pagar).



quantos de nós morremos a cada dia para que seres "aviltados" como o finado marcos archer ganhem mais e mais?

indigna-me a indignação que não temos - pelo menos se a temos, guardamo-la como segredo dos mais preciosos - com os desmandos, com a corrupção ativa e passiva, com nossos outros archer que, presos, são condenados a uma vida tranquila entre os muros dos nossos presídios de segurança nenhuma passeando em jatinhos de presídio em presídio como se estivessem a conhecer balneários.

me deixa ainda mais indignado não ver a indignação brasileira pelos mortos causados pela falta de leitos, de médicos e de hospitais. ou morrendo de outra forma, pela falta de educação. estes, pelo menos, levam uma vantagem: continuam vivo e sem saber porque vivem.

a sorte de todos é que minha indignação vem sempre muito atrasada e aí já ninguém mais toma conhecimento!

Ah, sim, ainda tem mais um brasileiro no mesmo corredor que o archer. com ele, mais uma chance de a diplomacia brasileira elevar a sua indignação a outro patamar. se eu estiver acordado, espero que a minha indignação chegue um pouco mais rápido. se bem que, como dizem que h.g.wells dizia: "a indignação é uma inveja com áureola". então...