na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, agosto 16, 2006

o debate que eu não vi...nem participei

como nos países ditos civilizados, existem temporadas de caça que são abertas, a cada estação. temporada de caça ao pato, ao veado, ao alce, ao ganso e etc, etc, etc. no brasil, nem tão civilizado assim, abre-se temporada de caça ao pato – neste caso, o eleitor. ao contrário dos civilizados países, o incivilizado caçador brasileiro não se utiliza de espingardas, rifles ou outras armas mortais. civilizadamente, o brasileiro opta por armas mais sofisticadas: bolsas família & escola, aumento salarial, indulto de assassinos e traficantes a pretexto de que mesmo eles, têm filhos e assim por diante. são armas poderosíssimas. tão letais quanto os mísseis israelenses (ou israelitas?) que caem como chuva de verão sobre Beirute para matar crianças que não seqüestraram dois soldados judeus. mas tem lá sua justiça: caçam, também, o rísbolá. quem estiver no meio do caminho – ou da explosão, que se dane! Além disso, de não usarem essas armas explosivas e invasivas do corpo humano, os caçadores brasileiros têm, em uma temporada – a da caça ao pato – duas temporadas pelo mesmo preço: caçam o pato brasileiro que, por sinal é um pato suculento, pois dá milhões de votos e a caça ao santo graal – não aquele quase mitológico por conter, dizem os crédulos e não crêem os incrédulos, o sangue de jc – mas ao que vive escondido no recôndito das urnas guardando esperanças de milhões de patos brasileiros e que tem poderes tão milagrosos quanto os do da lenda cristã. esse graal brasileiro atende pelo nome de mandato e, dentre os poderes está o da total impunidade. além disso, a posse do tal graal garante ao seu ungido, como a naturalidade kryptoniana garante a clark kent, a invulnerabilidade absoluta. à justiça, a desvios e pruridos morais como vergonha e honestidade e assim por diante.
está aberta a temporada de caça a partir de brasilha e estendendo-se por todo o território nacional. despidos de quaisquer atributos de moralidade, o que lhes confere um caráter de predadores absolutos, os candidatos esforçam-se nos discursos, nos efeitos especiais e... na caça. predador e presa não se confundem. em absoluto. apesar de absolutamente iguais, tentam se fazer diferentes. como aquele peixe que se finge de isca para devorar o outro peixe. e isto, eletronicamente. no rádio, na tevê, na internete e nos jornais. todos são angelicalmente inocentes, puros e bestas. têm propostas que nos fariam entrar, de imediato, no universo do povo mais saudável, sob todos os aspectos, deste planetazinho chamado terra. a isca desses predadores é – não a única, mas uma das mais utilizadas – um negócio chamado debate! criada por especialistas na caça-ao-pato, essa isca foi devidamente assimilada – claro que por interesses difusos – pelos especialistas em comunicação e convencimento de massa ao pato e se tornou um dos grandes trunfos de quem sabe jogar o jogo. assim, a caça ao pato – solenemente apelidada de campanha presidencial ou simplesmente de campanha política – sem um único debate em rede nacional, não é campanha nem é caça ao besta (não era pato?).
já aconteceram alguns, por esses dias. na verdade, não passaram de conversas amistosas, em ambientes finamente decorados das quais todos saíram rindo, sorrindo e dando risadas. mas teve (houve?) um que, mesmo não o tendo visto, se tornou memorável para mim: o inaugural. que devia, até mesmo pela pompa e circunstância de ser “o inaugural” devia contar com todos os caçadores alfa desta temporada: o maior de todos (alfa-alfa) e todos os beta. pois é. os beta foram e o alfa, não. por ser o melhor, talvez. como sou mentiroso contumaz (assim como o alfa-alfa) disse que não vi o debate. menti e não menti! menti quando disse que não vi o debate e não menti quando afirmei que não vi o debate. entendeu?
não vi o debate! a não ser que debate seja aquela coisa de expor friamente e com jeito de sabatina cantada em escola nordestina propostas que estamos calejados de ouvir. debate – e este, eu não vi! –, seria crivar aquela cadeira vazia de perguntas às quais ela não teria resposta alguma - como não as tem desde que, mesmo cadeira (e vazia de tudo) sentou-se na cadeira mais alta de brasilha e do país – debate seria fazer com que aquela cadeira vazia nos dissesse, afinal, que diabos ela quer com esse povo, que mesmo pato, ainda se pretende, se deseja, se necessita mas já não sabe se pode ser honesto, ser tratado com honestidade, com dignidade, como povo! não mais como pato!
“...de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto!” (e olhe que eu achava rb um chato!)
p.s.: não falei de lula! é contra as regras da temporada de caça ao pato!