na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, março 28, 2007

matilda falou que você me açoitou

“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
se não soou patético, pelo menos parece o artigo um da declaração universal dos direitos dos negros (qualquer dia desses vamos nos norte-americanizar na linguagem e nos denominar brazucafricanos que soa melhor do que afro-brasileiros) ou ainda, o marco zero da criação da constituição brazucáfrica ou, de novo, afro-brasileira. parece. e, parecer não é ser. é em verdade, e em verdade eu vos digo, a frase de uma pessoa que não deveria, jamais, dizê-la. Jamais, sequer pensá-la. mas eu gosto de frases. de repeti-las ao extremo, à exaustão. e esta, eu vou repetir até me convencer de que é verdadeira (viva, goebels!). talvez não consiga me convencer nunca, mas vai fazer bem ao ego de quem a cuspiu. ou a defecou.
“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
me peguei pensando nisto desde a hora em que ouví. puxa! pensei, paraplagiando milton nascimento e fernando brant em “certas canções” (já ouvistes quanta inveja saudável?) como é que eu nunca pensei nisto? aí, nesse exato momento, me descobri incapaz de pensar tanto. o melhor de tudo é que quem defecou esta pérola é uma negra bonita, inteligente, sagaz, astuta, renomeada e, acima de tudo, responsável pela primeira secretaria especialmente criada para a promoção da igualdade racial. como se fôssemos iguais! não somos e nunca o seremos. e isto é que nos faz bons: sermos diferentes! pense em quanto e em como! menos na cor, pelamordedeus!
“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
não. não é racismo um negro se insurgir contra um brancoverdeamarelo que o tenha açoitado. de forma nenhuma. como também não é racismo que um brancoazulanil resolva se insurgir contra um negro que também o tenha espancado revidando ou não. o problema é potencializar, hiperbolizar o preconceito num país preconceituoso por si só. senão, vejamos: em sãpaulo (favor não tentar me corrigir, a grafia é esta mesma. tente pronunciá-la, apenas), todo nordestino é baiano; na bahêa, todo sudestino é...carioca e, no nordeste – só pra deixar o resto do país em paz e com ele os irmãos villas boas – todo sulista é alemão. ta bom? tem muito mais por baixo desse angu de caroço que tem nome de árvore.
“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
somos mal educados. somos pobres. pelo menos a maioria de nós. e, por sermos pobres e mal educados e mal alimentados e mal amados somos todos, brancos, negros, cafusos, mulatos, amarelos, morenos, mulatos sem a mínima consciência do que somos, do que podemos.
“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
eu não consigo me lembrar da sua mão me açoitando e, muito menos do açoite usado, do pelourinho onde me pendurou. você, por acaso me açoitou em algum momento da sua vida? deve ter feito isto, sim. então, eu não tenho a menor obrigação de gostar de você. mas, gosto. só pra contrariar o fórum de entidades negras e abençoar augusto dos anjos chorando a mão que afaga e que é a mesma que apedreja ou açoita. aliás, um outro poeta melancólico que gosto, um tal chico buarque que tem pai pernambucano, avô baiano e é carioca em uma das suas canções dizia bem assim, em meio a uma série de chorumelas "me perdoa por me traires" me faz lembrar que fui açoitado sim, da sua vida e, mesmo assim, eu perdôo. fato imperdoável.
“...não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. a reação de um negro de não querer conviver ou não gostar de um branco, eu acho natural...é natural que aconteça o racismo, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou...”
a frase repetida à exaustão é de matilde ribeiro, ministra da secretaria especial de política da promoção da igualdade racial do governo brasileiro.

terça-feira, março 27, 2007

nada mudou. portanto, nada a escrever

santos dumont ou o que restou dele deve estar se revolvendo na tumba - ou museu da aviação -. seu retrato deve ter querido ir pro alto da torre eiffel e de lá se atirado apenas pra morrer outra vez. de vergonha! vergonha com a aviação brasileira, com o ministro waldir pires que não entende absolutamente nada da arte de voar e controlar o vôo a não ser quando parte de aeroportos etílicos - e mesmo assim não tão controláveis tendo em vista a cara sonolenta que ele faz quando, como os bóias-frias de joão bosco e aldir blanc, toma umas biritas espantando a tristeza - verdade! como é que, na terra do pai da aviação, perde-se tanto tempo esperando pelo meio de transporte mais rápido do mundo conhecido depois do pensamento?! se bem que o professor doutor tem ilustres companheiros todos eles, de alto escalão. aliás, altíssimo. não vem ao caso. cada um faz os seus vôos do jeito que quiser. mas que é realmente...
o mensalão não morreu! viva o mensalão! em brasilha tem gente disputando a tapas o direito de ir praquele partido que, em troca, ajudava as cadernetas de poupança dos novos afiliados. josé dirceu corre o sério risco de ser anistiado e nós, brindados com novas cafajestadas em nome dos companhêros. fernando collor "senador" de mello fez um discurso hilariante de tanta emoção. lembrou aquele anúncio que tinha como tema "o primeiro sutiã". o melhor é que havia gente como os diabos morrendo de medo da catilinária do sujeiro e depois de tanta falação quase teve orgasmos múltiplos. quem tem, tem medo, mas depois se dá bem. acm sofreu um novo piripaque, prepararam (alguns muitos) os fogos e os folguedos enquanto outros (nem tantos assim) já preparavam documentos para serem enviados ao alemão lá do vaticano que embora fique dentro de uma cidade italiana é um estado soberano, para que ele providenciasse com urgência urgentíssima o processo de beatificação e canonização do cabeça branca de forma tal que assim que fossem encerradas as exéquias o cabeça branca, o cacique, o coronel o bem amado mais desamado da bahia já fosse tornado e venerado santo. pra variar, acm recorreu das suas artimanhas e num hábito todo seu, contrariou todo mundo -até mesmo a natureza - e não se entregou ao criador (aliás, eu acho que, vez em quando, ele é que se acha o criador - pelo menos da bahia!), não foi pra goiás, não morreu, não fez nada do que queriam alguns (muitíssimos por sinal) contra a vonta de outros (bem poucos porque aqui não se contam os hipócritas). e está aí, vivinho da silva dos santos xavier. a bem da verdade, nada mudou.