na rua, na chuva ou na fazenda

sexta-feira, novembro 27, 2015

neve: macio e perfumado - o papel da constituição

ensinando o caminho das pedras
por esses dias, este nosso imenso brasilvaronilópátriamada revolveu-se e dividiu-se com a notícia da prisão de delcídio amaral, senador da república, devidamente chancelada pelo supremo tribunal federal. o negócio foi assim tão sério que os outros senadores, a começar pelo renan calheiros ficaram estupefactos e, na hora de chancelar a chancela do stf, decidiram-se (a maioria assim decidiu) pela manutenção do engaiolamento senatorial. e olhe que eles detém a prerrogativa de anular uma decisão assim. mas porque será que o fizeram? surto de honestidade e ética? epidemia de transparência? ou será que foi o efeito provocado pelo voto aberto? bom, seja lá o que quer que tenha acontecido, o fato é que votaram e mantiveram o pobre coitado do delcídio - cidinho, para os íntimos - na cadeia.

de qualquer sorte, quem saiu perdendo foi eduardo cunha que, por conta do efeito-cascata, efeito-dominó ou efeito-seja-lá-o-que-for, pode se ferrar nesse perrengue que passa no conselho de ética e que pode lhe custar, além do cargo, também o mandato. delcídio - cidinho, para uns tantos - está numa sala que chamam de cela, num gabinete chamado prisão e ainda perdeu o cargo de líder do governo no senado. aqui, na bahia de todos os santos e de todos os browns, a prisão de delcídio - cidinho, para os mais chegados - também deu o que falar. não é por menos já que baiano fala pelos cotovelos. assim, delcídio - cidinho, para os mais carinhosos - virou assunto de mesa de bar, virou fofoca na praça da piedade, no beco dos artistas e na ladeira da montanha. claro que foi notícia em todos os meios de comunicação ou naquilo que políticos profissionais de camisa vermelha e estrela no peito convencionaram chamar de a "grande mídia".

pois bem, repercutiu tanto que um procurador de justiça baiano ligou para um programa de rádio, desses que discutem até mesmo o sexo dos anjos, e dedicou uma boa meia hora pra falar sobre o assunto numa defesa intransigente do delcídio - cidinho, para os livres - e numa crítica exacerbada aos juízes supremos que tomaram tal decisão. dizia ele ao apresentador e aos rádio-ouvintes (existe um tevê-ouvinte?) que o supremo acabara de rasgar ("lascar" como baianamente se fala) a constituição ao prender um parlamentar em pleno exercício do mandato; que o supremo acabara de quebrar o equilíbrio entre os poderes e etc, etc, etc. bom, o nobre jurista dizia ou tentava dizer que o supremo cometeu um supremo sacrilégio.

na sua argumentação, o procurador procurou mostrar que delcídio - cidinho, para alguns - não cometeu nenhum crime hediondo. tudo bem que ele podia ser enquadrado por formação de quadrilha, incitação ao crime, participação em organização criminosa e coisa e tal mas isso não chega a comprometer a sua reputação ilibada de senador a ponto de enviá-lo do gabinete senatorial direto para a "prisão" onde hoje amarga uns dias. e a conversa rolou, como eu afirmei, uma boa meia hora com esse discurso altamente encorajador no sentido de acreditar e confiar na justiça e nas instituições brasileiras coisa que o povo lá de brasilha se acaba de rir quando ouve algo assim.

finalizando, um rádio-ouvinte (existe mesmo essa figura?) perguntou então ao causídico procurador o
sugestão do procurador
que deveria se fazer então com uma constituição antiga e caquética como a nossa. a resposta eloquente do procurador foi a coisa mais inacreditável que meus ouvidos - que a terra há de comer - jamais imaginariam saindo da boca de quem saiu: "leva pro banheiro e se limpa com ela depois de fazer cocô" resposta justa de um procurador da justiça que, segundos antes fazia colérica defesa da constituição que no apagar das luzes ele transformou em papel higiênico.

quarta-feira, novembro 25, 2015

dies irae, mariana!

lama de mariana em praia capixaba: banhistas aprovam
alguma coisa acontece no meu coração quando encaro os mares de lama que se espraiam brasil afora. dá um aperto assim daqueles que a lágrima desiste de escorrer pra não se envergonhar. se é no planalto central onde um enclave dominado por austeros bandidos manda em todo o país, cerca e refeniza aquela que deveria vir a ser a primeira mandatária, a administradora da nação que, por sua vez, se deixa refenizar e se torna moeda de troca num cambalacho sem igual. como diria aquele cidadão de voz roufenha "nunca na história deste país..." pois é, tem toda razão, ignatius.

a lama da samarco enterra a capacidade de  nos indignarmos
nunca na história deste país a terra tremeu tanto como agora. a terra e os homens. oremos por mariana e seu distrito e seus tantos ainda não contados mortos. a lama que saiu das minas enveredou por mares capixabas e matou, além de homens, animais, árvores, ervas santas e daninhas, matou a nossa capacidade de nos indignarmos. assim como o mar de lama que envolve brasilha não nos move uma palha sequer. na verdade, deixa-nos apenas com a vontade de fazer apostas: quem cai, quem não cai. não nos indignamos mais com a podridão que elegemos pois a culpa é nossa. chora mariana!

se não choram marias, clarices - preferem com dois "esses"? - chora, escondida, a dilma. por não
saber ser aquilo por que tanto lutou, ela chora nos recantos luxuosos do palácio onde não pontua, apenas habita. chora e, por vingança ou qualquer outro motivo, assassina o vernáculo, joga as metáforas na masmorra de um discurso enfadonho e sem sentido para um povo sem fala que não entende o que ela diz. reza, mariana!

tempestade à vista e nada da arca salvadora
no sub enclave das redomas brasilhanas, figurinhas coroadas travam um embate sangrento para ver quem tem menos sujeira sob as unhas e nesse embate se sobrepõe o sotaque carioca e cheio de malandragem de um homem que deveria presidir, com pompas e circunstâncias, a comissão de frente de uma penitenciária de segurança máxima, embora isto não exista no brasil. e é ele mesmo que, desanca e desautoriza seus adversários achincalhando-os olho no olho sem medo de dizer: você é igual a mim! lamenta, mariana!

mas nem tudo está perdido. a caixa econômica federal, com suas loterias - embora o jogo de azar seja proibido no país - arrecadou esta semana, só em um concurso da mega sena, 5,1 bilhões de reais para pagar um felizardo (provavelmente de um bolão de cartas marcadas como se sabe mas nunca se provou) pouco mais de 200 milhões. alegra-te mariana, pois este "alguéns" nem se lembrará da tua dor, nem das centenas de famílias que passarão por um período de míngua até a lama passar pelo rio doce e acabar com a vida por, pelo menos, uma dezena de anos. aposta, mariana!

vai que acabei de me lembrar de uma musiquinha pra elevar o moral nos tempos da minha longínqua juventude: "este é um país que vai pra frente...!"