na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, dezembro 17, 2015

what's up, doc?

confesso abestalhado que não sou usuário contumaz do aplicativo whatsapp mas, me confesso ainda mais abestalhado que começo a achar que a célebre frase atribuida a charles de gaulle afirmando que este não é país sério caberia como uma luva na justiça de sãpaulo ou, generalizando, na justiça brasileira. isto dito, fica patente aqui a minha paleontológica (já que sou um dinossauro da era moderna) revolta contra a decisão de suspender por 48 horas a utilização dos serviços do tal do zapzap.

o argumento acatado pelos homens togados lá de sampa pra suspender o zap só se sustenta pela "força da grana que ergue e destrói coisas belas" segundo caetano veloso. os argumentos partiram das operadoras de telefonia que, por verem sair voando alguns milhões de centavos oriundos de ligações não feitas e de mensagens não enviadas, sentiram no bolso o que pode fazer um mísero aplicativo e pediram aos sapientes men in black da corte paulista que fizesse cessar a sangria aos seus cofres nem que fosse por quarenta e oito horas. pimba! mais certeiro do que este, nenhum outro argumento o seria.

assim, o brasileiro, que adora caminhar na contramão do desenvolvimento, "sifu". vai ter de enviar sinais de fumaça, usar pombo correio ou então megafone pra convidar amigos pra balada, pra falar do trânsito ou até mesmo pra cutucar eduardo cunha (será que ele não estaria usando da sua influência para conseguir tal bloqueio?). o fato, é que a justiça paulista concordou em gênero, número (muitos números) e grau que as telefônicas estão certas (ganharam quanto pra chegar a isto - já que aqui, com uma graninha na frente em se plantando tudo dá?).

por mim, tudo bem, não uso tanto o tal do zapzap embora meu pobre telefone passe o dia inteiro rangendo os dentes com mensagens zapianas de toda origem. dos colegas de trabalho, dos desconhecidos que acham que me são caríssimos amigos íntimos, da minha família, do grupo de não sei onde que me incluiu sem me perguntar pelo meu aceite. só não me puseram no grupo dos ganhadores da mega sena. mas do serasa, spc, da malha fina do irpf... com certeza eu sou um dos primeiros signatários mesmo tentando, por todos os meios, evitá-los.

mas uma coisa, nessa história toda é extremamente positiva e sinaliza para novos tempos: a celeridade da justiça em se decidir a bloquear o aplicativo. gente, que rapidez! agora, só uma sugestão: durante essas 48 horas de profundo silêncio zapiano, vamos descobrir o maior número possível de juízes (de preferênci, paulistas) que usem o zap (ora, eles, mesmo sem assumir, também o utilizam) e, ao fim delas, assim que o zap voltar a funcionar, vamos torrar a paciência deles mandando mensagens com flores, aplausos e elogios para que eles saibam o tamanho do bem que fizeram ao país.e se algum reclamar, a gente faz que nem o coelho pernalonga quando enche o saco de hortelino trocaletras ou daquele bigodudo turrão e, com cara de inocente, manda um zap perguntando: whatsapp, doc?

Em tempo, as operadoras que pediram o bloqueio do zap, embora sejam todas elas conhecidas, não se permitiram identificar no pedido de bloqueio e daí? porque que a gente não aproveita para bloquea-las também?

p.s.: tem um lado bom: por 48 horas eles conseguiram evitar um monte de acidentes de trânsito ou de gente batendo a cara na porta.




terça-feira, dezembro 01, 2015

o martírio de rocinante ou de como se faz política e rádio na bahia


lembra do célebre cavalo de dom quixote, aquele chamado de rocinante? pois bem, um dos seus descendentes - pelo menos no que se refere ao gênero - acaba de se tornar o pivô de uma guerra política neste estado de espírito chamado bahia. como? quando? porque? bem, vamos começar do começo porque é sempre bom começar a se contar histórias desse jeito.

há, com uma certa tradição, uma feira agropecuária no parque de exposições de salvador, capital da bahia. o parque, como tal, não existe. é apenas um descampado enorme com alguns galpões cobiçado por especuladores imobiliários, construtores e dirigentes dos movimentos sociais vários que brotam em nosso país como flores de maio em abril. além de se prestar para shows de axé-evangélico-meigospel-music onde todos se rebolam louvando, ora a bunda ora a jah, javé e outras divindades menos, digamos assim, populares.

"forró do cardeal" o mártir da fenagro, valia 200 mil 
voltemos ao que interessa: o martírio do cavalo. começou, no último domingo, a tal da feira. e já no acender das luzes, o cavalo, provavelmente desavisado e sem se utilizar de e.p.i. algum acabou levando um choque na suíte-baia-barraco onde se hospedava e partiu célere pra goiás. pra quê? criou-se, a partir do acidente, uma luta ferrenha entre a prefeitura e o governo do estado (sucom x seagri) tendo como árbitro um conhecido apresentador de rádio e tv. a sucom, fez o primeiro movimento ao anunciar orgulhosamente o embargo imediato da feira.

acusando o pontapé na linha do gogó, o governo escalou seu mais traquejado atacante e revidou com um decreto (segundo alguns, ditatorial) desembargando o embargo e mandando o evento continuar como se nada houvesse ocorrido. aí entraram em campo outros contendores: dois deputados, ambos ex-qualquer coisa e absolutamente antagonistas, um, federal, defendendo o uso dos animais como há séculos o homem faz e o outro, estadual, totalmente contrário e considerando que um animal também é gente, dentro da filosofia magriniana - ramo pseudo filosófico ambiental criado pelo ex-ministro antonio rogério magri -  quer proibir até os vaqueiros de montarem seus cavalos e corram atrás do gado num ato de extrema crueldade para com esses pobres e inocentes seres.

aí entrou em campo um outro contendor para desempatar o baba: outro deputado (federal), irmão de um outro ex-ministro, perdeu preciosos passos no check-in do aeroporto onde voaria (a esta altura, já voou faz tempo) para, por telefone, acusar o governador de estar querendo provar que é mais macho que o prefeito, de estar deixando que "este chão é meu, nem boi lambe nem macaco trepa" ao desembargar tão bem feito embargo e que, caso outra tragédia tão trágica quanto a que vitimou o pobre do equino, campeão de várias jornadas e com mais filhos espalhados do que pelé em seus áureos tempos, seria réu como co-autor de homicídio (?) culposo.

e nesse teatro de pecuaristas, adentra o gramado ou relvado, mais uma vez, o tal apresentador. desta feita como um mediador: "foi um cavalo, sim senhor, senhor secretário (estava lá também o secretário de segurança que entrou de gaiato na contenda) mas, não existe o valor de amor sentimental?" disparou. meu deus, me acuda.

o pior é que a feira ainda vai durar a semana inteirinha e novos embates virão. eu nem me arrisco a dizer que tudo isto por causa da morte de um cavalo para que não me envolvam ou me processem. aliás, eu já corro o risco de ser processado porque citei apenas rocinante quando comecei este post. e os outros cavalos famosos dos quais nem toquei nos nomes a exemplo de pégaso, bucéfalo, baloubet de rouet ou até mesmo incitatus, do imperador romano calígula? a sorte que tenho é que todos eles já estão tão mortos quanto este que se tornou o mote para uma briga política, à exceção de pégaso que era e é apenas uma lenda, um mito grego e baloubet de bouet que, embora verdadeiro como o que morreu, eu não sei por onde anda depois de perder um torneio por uma refugada mal dada. falando nisso, qual era mesmo a cor do cavalo branco de napoleão?

enquanto isso, no olimpo lá do planalto central, atenas e zeus jogam seus dados para ver quem vai entrar na barca de caronte e embarcar para o hades. façam suas apostas porque, ao cabo e ao final, seremos todos perdedores.