na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, maio 25, 2011

paralelos brasileiros para dsk (ainda que sem sangue)

antonio marcos pimenta neves, 74 anos, foi preso na última terça-feira, 24, onze anos depois de matar a tiros a ex-namorada colega de profissão, sandra gomide. editor do conceituado jornal o estado de são paulo,pimenta neves conseguiu, ao longo desse período, esgotar todos os recursos possíveis e imagináveis da engenharia judicial para não cumprir a sentença de 15 anos a que foi condenado e agora, com a decisão do stf, deve, finalmente, cumprir sua pena.

muita gente, com alguma razão, festejou a prisão do assassino. réu confesso, pimenta neves “se entregou” aos policiais que cercaram sua casa em um bairro nobre de são paulo e na manhã desta quarta-feira, deve seguir para um presídio. qual o motivo da comemoração dessas muitas gentes ditas acima? por se prender um assassino? por se fazer, finalmente, cumprir uma decisão da justiça ainda que com onze anos de atraso? isto tudo deveria ser, a bem da seriedade, e a bem da própria justiça, motivo para lamentação com direito (sem trocadilho de espécie alguma) a lágrimas.

bem sucedido pessoal e profissionalmente, pimenta neves é um representante típico de uma das maiores e piores anomalias a grassar neste país de impunidades mil. Foram onze anos de liberdade ainda que assombrada. foram onze anos de escárnio sob o disfarce de recursos judiciais. aos 74 anos, a sentença pode até nem pesar tanto assim para ele. No entanto, os onze anos de liberdade devem pesar muito sobre a balança do ícone da justiça – que, neste caso e na minha modesta opinião, não foi feita -, sobre essa sociedade que hoje comemora e noticia aos quatro ventos essa “vitória”.

fosse pimenta neves, menos poderoso, de preferência, pobre...

o mundo se estarrece ainda (já nem tanto) com a prisão, a bordo da primeira classe de um avião que o levaria à sua frança natal, do agora ex-todo poderoso diretor FMI e preferido dos seus compatriotas a substituir nicholas sarkozy no palácio dos champs elysées, dominique strauss-kahn por crime sexual. dsk não chegou nem perto da proeza de pimenta neves.foi preso logo depois do crime, amargou as barras de uma cadeia e hoje,depois de pagar uma fiança milionária, continua preso já que ganhou como adereço uma algema eletrônica e não pode sair do conforto do seu domicílio nem pra comprar pão em uma padaria de qualquer esquina novaiorquina. e, na terra onde “o réu ainda é considerado inocente até que seja provada a sua culpa”, dsk faz com que nossos aplausos para a prisão tardia de pimenta Neves soem assim como algo...

nota: há quatro anos, dois seguranças da secretaria municipal da educação de salvador estão presos acusados da morte do servidor neylton souza da silveira. supostos executores do servidor, os dois ainda aguardam julgamento.

Um comentário:

  1. Sempre atual e preciso nos comentários. De fato, apesar te todo alarde acerca da vitória da justiça sobre Pimenta Neves, o que se viu ao longo desses anos foi uma prova irrefutável de que a nossa "justiça"só funciona para punir pobres.
    Bem depois do seu texto só resta usar o bom e velho latin para dizer: prehensionis qua sera tamen.

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