na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, abril 04, 2006

a pergunta que não quer calar

futa que o fariu! tô gripado e prenhe de ufanismo!!!! futa que o fariu!! que o novo pires (waldir) da defesa nacional me perdoe mas é impossível não ser arrebatado e levado de roldão pela patriótica enxurrada verde e amarelo que desce do azul do espaço; é impossível não ser siderado pela ufania de estar passando ridículas (porque minúsculas) férias lá em cima (será que aqui é "lá embaixo?!) e poder parafrasear aquele russo de uma nave também russa e berrar aos quatro cantos (bolas, esferas, redondos têm quatro cantos?); "a terra é azul!" (como é que se diz esta frase em russo globalizado?). putaqueopariu! até a gripe passou de tanta felicidade cosmonáutica (não poderia ser cosmogônica?). recriamos o universo! brincamos de deus! saramagoniamos a ciência beletrista de saramago! pra frente brasil! salve a seleção! quer dizer, salve a criação! mais orgulhoso do que eu, só lula! mais invejoso do que eu, só lula! orgulhoso, porque, bastardo da plebe - eis que ele era um lorde e não o sabíamos (apenas desonfiávamos daquele jeitão castrense de meter um charutão na boca e desprezar uma cachacinha) - colocou o país-continente no hall da fama na corrida espacial. e invejoso porque, até agora, ele só passeou em inema, no subúrbio de salvador. tudo bem que cercado de toda a segurança concernente a um chefe de estado em território de nem tanta segurança assim (cercado de pobreza por todos os lados) mas mesmo assim, inema. bonita até a vista doer. excludente até o dinheiro chegar. mas, infelizmente, inema. infelizmente, brasil com "l" de leis condescendentes, excludentes (de novo?! tá acabando meu vocabulário! socorro, são diego! ele. sem dois "ll" a não ser os dos nomes pelos quais é conhecido: luiz e lula (e olhe que só aí já se vão os dois: o terceiro fica pro sobrenome). aahhh! lulalápazeamormendociano: que felicidade, meu querido! só você, vindo do sertão pernambucano pra perder um dedo numa oficina qualquer de uma montadora de automóvel que pobre só pode olhar pra nos fazer assim, saltar dessa merdolência infeliz nordestiniana embora ao sul do equador para os píncaros da glória de olhar a terra, os ingleses, franceses, indianos, japoneses e chineses e até alemães, de cima! bem do alto. e melhor: com o fair play que nem os ingleses têm; com o savoir faire que francês nenhum há de alcançar! só você pra jogar debaixo do tapete o (north) american way-of-life e dizer: estamos também no espaço!!! dá-lhe, lulocci!
e não importa que palula tenha jogado pela descarga do vaso sanitário daquela casa de diversão de brasilha tudo aquilo que ele vinha amealhando no seu patrimônio moral no meio de nós, humildes salafrários cujo maior crime é a obrigação de votar em guardiães da moral, cantores de óperas-bufa em hóteis de são-paulo pro brasil se extasiar no jornal nacional, ou mesmo em paladinos da justiça que vão dar palestras com-tudo-pago e depois pedem ressarcimento de gastos aos cofres públicos. nós, de alguma forma, somos criminosos contumazes e eles? que culpa têm se os elegemos nossos sacrossantos e ilibados defensores? que culpa têm se salafrários - como nós - os aviltam oferecendo alguns poucos milhões de reais (o que significam?) para que possam defender-nos um pouco melhor de nós mesmos ou dos nossos desejos inconfessáveis de uma vida melhor?
vida melhor prá quê? vivemos bem com um salário minimamente estabelecido em 350 contos. tá bom demais da conta. dá pra pagar luz, água, telefone, casa de aluguel, plano de saúde, escola das crianças (para que nós as fazemos? para perpetuar essa felicidade) e, futuramente, uma cova rasa (desde que saramago não intervenha com sua morte paredista a fazer greve parecendo saída do mst de stédile e rainha e nos tire esse prazer de saber que alguém vai chorar por nós). pois bem, tá até na hora de fazermos justiça a alguns de nossos heróis. primeiro rebaixando alguns a quem o surto de honestidade, de brasilianidade, de patriotismo ou uma cachaça mal fumada quase nos leva pro buraco: uns eribertos, uns faxineiros de aeroporto que encontram dezmildolares e devolvem ao seu legítimo dono, uns francenildos (eita nomezinho!) dizer que viu, sim, o mais poderoso depois do poderosíssimo sair da casa de jeany escanteio. vamos colocá-los em seus devidos lugares: são apenas brasileiros. ciosos de assim o serem. vamos fazer jus aos verdadeiros heróis desta ópatriamadidolatrada: sorry, so sorry jeffersons, dirceus e a jubarte dançarina (só pra não encher a página de tantos patrióticos e inefáveis nomes). cês merecem muito mais que trinta dinheiros! nós merecemos o seu repúdio e a sua indignação (justíssima, justiça lhes seja feita!)
tem uma amigamulherminha que diz que não consigo alinhavar os meus textos neste brog muito embora eles até consigam ser "brilhantes". na verdade, quando falou em "brilhantes", ela antevia essa façanha lulesca e, nessa antevisão, antevisava o meu alvo: o nosso astronauta de mármore (valeimedeus! virei pop roque nacional!) que, a bordo de uma nave russa, correu riscos de antonov em céu de brigadeiro (como caem aqueles aviões) partiu pro espaço com uma missão altamente científica e histórica. histórica por marcar a presença do primeiro brasileiro no espaço sideral (ainda que nem tão longe assim já que podia enxergar brasilha) e científica, por fazer lá em cima em meio a dois russos cheios de vodca (vai ver que aprenderam nesse período a fazer uma caipiroska) e uma americano vermelho de tanto "rye": descobrir se feijões crescem mais rápido sob gravidade zero e, esta sim, a piece de resistence de todo o brasileiro projeto. a pergunta que um frevinho pernambucano - no seu nascimento, inocente - transformada na maior questão filosófica do carnaval brasileiro: por que que vagalume acende a bunda? a propósito: era cadela ou cachorro o primeiro astronauta russo? e viva o astronauta brasileiro! de qualquer modo, mesmo que 20 milhões de dólares mais pobres, sejamos educados: dosvidânia, tovarich!