na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, março 20, 2012

politicamente incorreto



promotor: membro do ministério público, responsável pela defesa do patrimônio público, do meio-ambiente, dos direitos dos consumidores, do direito econômico, defesa do patrimônio histórico-cultural brasileiro, defesa dos hipossuficientes tais como crianças, idosos, minorias etc. dentre muitos outros interesses coletivos de relevância social.

cigano: trapaceiro, sabido, espertalhão, burlador, velhaco, trapaceador (...)

as duas palavras acima e suas definições são nossas velhas conhecidas. quem, com raízes tão profundas em um mesmo pedaço de chão a ponto de nunca ter saído do torrão natal não já foi chamado – depois de uma transação onde levou alguma vantagem – de... cigano? que atire, então, a primeira pedra. quem, nas públicas repartições lotadas de aproveitadores das necessidades alheias nunca pagou juros de... cigano!  pelos caraminguás destinados a segurar as despesas até o próximo holerite? que atire a primeira promissória (ou cheque).

pois, não é que um promotor de justiça um tanto ocioso decidiu-se que a definição pejorativa dada à palavra (e, às vezes merecidamente, aos nômades) é motivo justo e frouxo para o banimento das bibliotecas, livrarias e casas do ramo (inclusive escolas) do dicionário houaiss com a sua apreensão?

imaginem agora o bafafá que baianos deveriam criar com paulistas, cariocas e/ou sulistas em geral para quem todo e qualquer nordestino é baiano aí se querendo dizer negro (?!) preguiçoso, safardana e por aí afora? até os mineiros, que só são nordestinos quando se trata de abocanhar federais verbas via sudene, são atacados na poética definição antropológica (?) de que “mineiro é um baiano cansado!”  e os paraibanos? o que deveriam dizer quando outro compatriota nordestino, já que o brasil sutilmente se divide em dois: o brasil do norte-nordeste e o sul (¹) , chama alguém atabalhoado de... paraíba!?

melhor é a definição que damos para polaca?! quer saber? procure o houaiss antes da apreensão!

melhor é a definição que nos dão os belgas às nossas mulheres. sob o sotaque franco-belga com direito a biquinho charmoso, a palavra brésilienne sapecada às nossas queridocas desde 1884, traduz-se muito vulgarmente numa gíria que até já nem se usa tanto por lá mas significa travesti. e olhe que eles tem toda razão já que exportamos - de há tempos e tempos atrás mas também nem tanto tempo assim - travestis para a europa.

o tal do procurador de justiça, que é outra acepção para promotor, bem que podia ater-se à raiz grega da palavra cigano: athígganos (intocável) que o dicionário houaiss, passível da condenação de banimento, também define muito embora tenhamos importado a palavra cigano do francês cigain em meados do século 16.

será que o procurador, ao fundamentar o seu pedido de apreensão do “houaiss” por esclarecer a forma como nós usamos a palavrinha “cigano” procurou verificar a que ações apelidamos carinhosamente de “asneiras” ou o que o baiano define como “presepada”?

sei não... sei não.

(¹) a definição é imprecisa: ao que parece, e de acordo com os informes sobre trânsito e situação de aeroportos do país veiculados pelas grandes redes de tv nos jornais matutinos, o brasil se divide em são paulo e rio de janeiro (nesta ordem) e, eventualmente, brasília. o resto? bom, o resto...