na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, junho 22, 2010

fgts é bom, barato e dá voto!

"...o homem chega já destrói a natureza, tira o rio põe represa e diz que tudo vai mudar..."

a frase acima, da música "sobradinho", de sá e guarabira, me levou a refletir em algo posto que, enquanto me lembrava da música, passavam no meu campo de visão, imagens da devastação que as nordestinas chuvas juninas estão levando a cidadezinhas e vilarejos da zona da mata pernambucana e alagoana. me assustaram em alta definição (nunca, na história deste país, se comprou tanto aparelho hdtv!) aquelas cenas de lugares que, sem as chuvas, já são tristes, pobres e trágicos em sua nordestina pobreza.

aí me vem alguém de suma importância lá de brasilha pra dizer que o governo vai liberar o saque do fgts para os atingidos pelo desastre que cai do céu. fgts?! fgts???? prá quem??? para aquele trabalhador que não tem emprego formal e que racha mãos e pés escavucando a terra pra plantar alguma coisa pra vender na feira? qual o fgts que ele por acaso teria? aquele lá da venda onde ele pendura tudo o que consegue ganhar quando a seca não destrói? aí seria o fgts ao inverso: ele seria o devedor.

alguém, de suma importância lá em brasilha, e que saiu dessas paragens apesar do forte sotaque paulista, deveria lembrar que agricultor (nem é bem isto, na verdade, eles se autodenominam roceiros)do tamanho deles, vive uma vida miserável e não precisa de demagogia eleitoral como esta. a menos que esse alguém de suma importância lá de brasilha, cadastre, em tempo recorde, todos esses milhares de nordestinos agora castigados pela água que caiu e ainda cai do céu, crie um fgts que não precise da garantia da ctps assinada retroativa a centos anos atrás e libere esse dinheiro para saque. ah! mas agora não dá, porque seria irresponsabilidade!

outra coisa que atordoa: há pouco tempo atrás, nordestinos famélicos comoveram-se com as tragédias de santa catarina e são paulo com a mesma água que agora cai sobre eles e mobilizaram-se junto com todo este povo brasileiro numa ajuda sem precedentes aos irmãozinhos do sul. foi memorável o sentimento de solidariedade que perspassou o país de ponta a ponta, de lado a lado, de cabo a rabo, nordestinamente falando. hoje, o tamanho da mobilização no sentido inverso é mínimo. a cobertura midiática à tragédia pernambuco/alagoana é quase nenhuma, apenas as imagens desoladoras assomam nos vídeos em breves minutos.

as duas tragédias - a do sul e a do nordeste que agora se desenrola - são iguais. são tragédias. no entanto, a do nordeste se avoluma, se agiganta, na medida da sua pobreza. e nós...?

"...o sertão vai virar mar, dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão!"

sexta-feira, junho 11, 2010

eu quero ir pro senado!

eu quero ir pro senado! vou bater pé firme, fazer beicinho, greve de fome, subir nas paredes, ameaçar me jogar de um pé couve, qualquer coisa mas eu quero ir pro senado! não pra ser senador porque não vou ficar me abespinhando com falcatruas, jornalistas abelhudos, lobbistas me enchendo os bolsos e me presenteando com viagens internacionais ao lado de modelos de fechar o comércio. nada disso! eu quero ir pro senado como assessor, ascensorista, contínuo, auxiliar de serviços gerais, faxineiro, qualquer coisa, mas eu quero ir pro senado!

tudo bem que vou ter, vez em quando, de encarar o lula, por mais algum tempo, a dilma ou josé, por outros mas paga a pena! até mesmo ver aquela cara de jabba the hut daquele moço que é presidente de alguma coisa lá, de uma mesa, cadeira... sei lá! aquele, que quando fala, parece que só tem língua e nada mais! encaro, numa boa, desde que entre para o senado!

imagine, vidão, trabalho nenhum, salamaleques a toda: “sabe o senador fulano?! conheço ele de pertin, pertin! topo com ele tudo que é dia!” maravilha! quero ir pro senado que é melhor do que pasárgada ou pescar de bomba em aquário raso! imagine a gordurinha polpuda do contra-cheque no final do mês: é adicional disto, adicional daquilo outro, gratificação por isto, gratificação por aquilo; comissão por regime especial disto, comissão por regime especial daquiloutro e, no frigir dos ovos o gerente da minha conta (claro que terei um gerente de conta!) me convida pro chopp à beira do para-no-ar! não importa que o salário em si seja uma miserinha de nada o que vale é o que ele arrasta quando está a caminho da conta!

eu quero ir pro senado! de qualquer jeito! pode ser até como escovador de sapatos da secretária do secretário do assessor do assessor parlamentar. o que conta é estar lá dentro juramentado e na folha de pagamento da casa. o resto que se dane! imagine, senadores votando aumento a cada seis meses – de preferência à boca pequena pra ninguém ficar de olho grande! menino! isso é bom demais da conta! que os jornais espalhem que a folha vai custar 481 milhões! é pura maldade, boataria da imprensa mas é um boato do bem e boato do bem não se desmente, deixa virar verdade!

querem fundamentar meu desejo (súplica)? vão procurar nos sites de transparência, das contas do senado e vão veer do que estou falando. só não vale furar a fila. eu já estou nela