na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, novembro 14, 2017

jaws

eu sei que vocês vão tirar sarro da minha cara por causa do título acima. a razão dessa metidez de título postado em inglês é por uma só razão: não encontrei outro e aí me veio à cabeça aquele aterrorizante filme de steven spielberg onde um tubarão branco matava meimundegente numa praiazinha lá dos estadunidos. isto (o filme) foi em 1975 (viu como sou velho?). o título original do filme era "jaws" e aqui foi tupiniquimente traduzido para "tubarão". o interessante é que o cartaz do filme mostrava um tubarão exibindo galhardamente a sua dentadura como um sorriso. e daí, o que tem a ver o sul com a salsa? vais a excrever uma crônica sobre tuas memórias, ó gajo velho? podes estar a me perguntar enquanto lês. não. não é nada disso.

como sou velho e distraído, nunca havia me dado conta de um fenômeno provocado pelo advento dos celulares e das redes sociais que espocam a cada segundo e modificam hábitos, moldam novas personalidades até mesmo em quem já as tinham formadas de muitos e muitos anos. e esse fenômeno pode ser visto nos shoppings, nos jardins, nas praias, nos bares, nos restaurantes, nos cinemas e até...em acidentes. chamado de "selfie", o fenômeno é um exercício de narcisismo que serve, tanto para alegrar, quanto para entristecer. embora não pareça aos olhos de quem é adepto, pode ser perigoso para quem não se inclui na paisagem. 
resgate do passageiros da lancha  (foto:PM/BA)

outroramente, nos primórdios da 'selfie', uma moça estadunidense acabou filmando a própria morte ao se "selfiar" enquanto dirigia. recentemente, aqui na terra brasilis, um grupo de estouvados - e provavelmente, bêbados - a bordo de uma possante lancha fazia uma farrinha entre a baía de todos os santos e o litoral sul da bahia quando a tal da lancha naufragou. e o que um deles fez enquanto esperava ser resgatado? uma selfie. sacou do celular, botou o bracinho pra cima, arreganhou os dentes e, ploft! um click para a posteridade! dá pra imaginar leonardo di caprio e kate winslet fazendo uma selfie (ao diabo com as aspas!) na proa do titanic apontando pro céu segundos antes de despencarem nas águas geladas do atlântico norte?

pois bem. o tal do selfismo galopante que atinge bebês (eles já nascem agarrados ao celular antes das tetas da mãe), crianças, adolescentes, jovens e velhos, me passava desapercebido até poucas horas atrás quando saí do prédio em que trabalho e me deparei com um sujeito de dentes cavalares, um barbicacho sob o queixo, um sol de lascar e parado, aproveitando um baita engarrafamento monstruoso, sacou o celular e, num gesto universalizado, entortou-se todo, levantou o celular, congelou o sorriso dos tais dentes que não cabiam na boca e tascou-se um click. depois, num outro gesto também universalizado, foi conferir o resultado. não gostou e fez de novo.  depois, teclou qualquer coisa no aparelhinho, abriu outro sorriso aterrorizador e foi-se embora. fiat lux, nasceu este post!

vai que steven spielberg, num salto para o futuro, conheceu a técnica da selfie e aplicou-a no filme ou, pelo menos, no cartaz.