na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, abril 24, 2014

política a ferro e fogo

eu jurei de pés juntos que jamais voltaria a falar desse tal de prisco. jurei em vão pelo santo nome dele. depois de ter sido 'refenizado' pelo seu desejo atávico de ter poder a qualquer custo, fui pego no contrapé - assim como todos os que se encontravam nessa terrinha abençoada por deus e maldita pelos filhos de caimmy - com uma violenta paralisação dos rapazes de farda responsáveis - em tese - pela nossa segurança.
dita pacífica, a paralisação dos policiais militares baianos foi, na verdade, violentíssima. isto porque, desde o seu nascedouro rasgou a constituição e nos violentou a todos ao nos manter presos na bolha escura do terror.

ainda assim, havia uma certa legitimidade. não no movimento em si mas naquilo que ele se propunha a reivindicar. mas aí é que entra o surreal: os milhares de policiais que nos emparedaram no medo assim agiram espicaçados, insuflados por um desejo de dois ou mais sujeitos ditos "seus representantes".
na retórica desses "representantes" dos senhores fardados, a luta era por dignidade na profissão, respeito no trato e honestidade nos contracheques e etc e etc e etc. por trás da retórica aprendida com um certo barbudo repugnante 27 vezes nomeado 'doutor honoris causa' em universidades mundo afora, havia e há um outro fator: as eleições de outubro próximo quando os dois principais protagonistas do movimento vislumbram a possibilidade de galgar um outro patamar em suas carreiras.

estrelado no galardão de capitão, o deputado estadual tadeu fernandes sonha com o clima seco de brasilha
. sonha refestelar-se num gabinete do congresso nacional com seu nome inscrito na porta sobrecimado ou antecedido pelo aposto "deputado federal"; por seu turno, marco prisco, ainda que desprovido de galardões - era soldado do corpo de bombeiros e perdeu essa condição ao ser expulso da corporação - mas tornado vereador da soterópolis depois de um movimento semelhante ao que deflagrou na semana passada, quer deixar de ser um simples edil de província e tornar-se um rotundo frequentador do cafezinho e da cantina da assembleia legislativa da bahia. para isto, era preciso mesmerizar, como um edir macedo dos quartéis, aqueles que, novamente em tese, teriam a mesma origem profissional que eles. e conseguiram. conseguiram com o canto da sereia de uma quartelada que prometia mundos e fundos.

aos olhos da tropa, a greve teve toda razão de ser. e teve, para ser justo. afinal, nossos policiais estão entre os que tem as piores condições de trabalho, salários indignos e nenhuma possibilidade de crescer profissionalmente. no máximo, acena-se-lhes com a possibilidade de um enterro com honras militares num cemitério da periferia que é onde a grande maioria habita. isto fez com que se transformassem facilmente em massa de manobra para prisco e tadeu fernandes. isto fez com que fechassem os olhos e, em alguns casos, a consciência para o que estavam fazendo com os sem farda que, indiretamente, ajudam a lhes pagar o parco salário.

a busca frenética de prisco e fernandes pelo eldorado das urnas resultou em três dias de saques - até uma mãe e seu pequeno participaram de um deles - arrastões, assaltos à mancheia e 148 assassinatos (entre eles, três policiais militares) somente em salvador e feira de santana, as duas maiores cidades do estado. tornou-se então necessária a intervenção divina encarnada na figura do arcebispo primaz do brasil. amainaram-se os ventos tempestuosos, acalmaram-se os ânimos e chegou-se a um... digamos, consenso. fim? não. recomeço.

depois da churrascada comemorativa, fernandes e prisco retiram-se para um descanso no paradisíaco mas nem tanto assim litoral norte da bmp (perguntem à torcida do bahia o que significa a sigla!) e os outros, que sempre serão os outros, de pança cheia e consciência do que é coletividade zerada, para o seu paraíso particular nas quebradas do mundaréu.

sexta-feira santa. abre-se um novo capítulo desse dramalhão: prisco é preso por crime federal. tadeu nem pisca pois a prisão de prisco já era contada de priscas eras. apenas atrasou um pouco. escala-se como o defensor dos frascos e dos comprimidos e anuncia um novo aquartelamento. a cidade, o estado, estremecem e uma nova onda de pânico começa a tomar vulto. horas depois, novamente com a intervenção divina, desta vez travestida de uma magistrada - que também está de olho no caminho de santiago das urnas. aborta-se o armaggedon.

mas eis que, nas ondas do rádio, fernandes proclama-se um herói para todos: "evitei uma tragédia na em salvador!" ufana-se. esquece-se das mais de cem mortes que lhe deveriam ser imputadas. a ele e a seu comparsa. esquece-se dos milhares e milhares de reais que viraram escombros nos saques e arrombamentos. importa-se-lhe somente os holofotes ganhos com a inabilidade da outra parte que não soube negociar com os verdadeiros merecedores do diálogo. os inocentes que serviram de massa de manobra. de ferramenta para alavancar o firme propósito eleitoreiro, o desejo de poder pelo poder.

o soldado expulso e tornado celebridade às custas das vítimas provocado pela sua sanha insana em busca de votos continua preso e já começa a ser considerado pelos seus advogados e por aqueles que de olhos nos despojos de uma possível vitória eleitoral em outubro como "um anistiado político", um "mártir da categoria". é o anti-herói ganhando status de santo.

o deputado que quer fazer um upgrade na carreira segue capitalizando a visibilidade ganha e tem, na prisão do seu pupilo, a grande ferramenta para se manter canalha enquanto se disfarça de líder.

no fim e ao cabo (embora nada disso tenha indícios de ter se encerrado) todos saíram derrotados. pela torpeza, pelos baixos instintos que guiam o homem em sua eterna busca pelo poder (ainda que relativo).

segunda-feira, abril 14, 2014

o hábito faz o monge...?

causou-me espécie ver, nesta segunda-feira - fatídica para torcedores rubro-negros baianos e atleticanos das minas que se viram a perder títulos sem perder jogos - em um vídeo postado nos principais 'sites' de notícias as imagens de um desvio de comportamento de um cidadão tido e considerado como acima de qualquer suspeita.

não sei se por estar ainda sob o efeito anestésico avassalador dos dois empates dos meus times preferidos ou se, por estar tão afeito a esses 'deslizes comportamentais' dessa gente tão pública, não dei tanta importância assim. considerei ou cheguei a considerar que essas imagens teriam mesmo um quê de desrespeitosas, criminosas até, por terem sido captadas sub-repticiamente através das lentes de um indesejável telefone celular - a praga do século.

acreditando-me ainda estar penalizado do tal sujeito, dispus-me a rever ad nauseam, as tais imagens. credo em cruz! passou o pifão, a ressaca, a rebordosa da derrota empatosa e me lasquei na risada. mas não uma risada qualquer, foi uma risada larga, folgada, daquelas que só se dá com a desgraceira dos outros.
então, realmente, a ocasião faz o ladrão!!! nunca vi adágio mais certeiro!




mas de repente, me veio aquela coisa, aquela dúvida e descobri a falta de relevância de tais imagens que geraram tal fato: se, em 2012, josé maria marin, ex-vereador, ex-governador, presidente da cêbêefe poderoso até não mais poder, embolsou uma medalhinha que deveria ter sido entregue a um dos meninos do corinthians, campeão da copinha paulista de futebol junior (depois, ele obrigou a éfepêéfe a dizer que foi uma cortesia dada a ele, mas ninguém comeu o reggae), por quê que aqui, na terrinha, um diretor da éfebêéfe, não poderia imitar o seu correlato mais poderoso? quanto provincianismo!!! tudo bem que lá, o cara foi filmado pelas grandes redes de tevê e aqui, o desinfeliz foi filmado pelas lentezinhas de um celular mequetrefe ou quem sabe, xingling, mas e daí?!

lá, o tal do zé maria marin, se safou e ainte cobrou desculpas. aqui, o pobre do jorge lima foi peremptoriamente limado sob a desculpa de que seu gesto "pegou mal" para a instituição. nesse ponto, o povo mais acima de jorge tem uma certa razão: se ele fez isso com uma coisa simples como uma medalha que era destinada ao pescoço de um triunfante jogador do bahia e acabou no seu bolso, o que será que ele tem feito com os cofres da éfebêéfe esse tempo todo em que esteve diretor financeiro?


talvez nada mas, como diz o adágio - certeiro como uma flecha: o hábito faz o monge.