na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Choveu tamborete! Viva o carnaval!

Em que pese a tragédia carnavalesca ou a falta de sorte do cara lá de candeias, não achei título melhor para começar esta análise da “maior festa popular do planeta”. bem que eu queria começar de outra forma. tipo assim, tou com saudade de tu, meu desejo ou assobiando aquela música do damien rice “the blower’s daughter” só pra dizer que alguém não sai da minha cabeça (ooops! voltei ao título!) mas deixa pra lá. voltemos à chuva:
um casal: “a couple” sem cópula, brigou feio num certo apartamento da avenida sete – pleno circuito carnavalesco – bachianas sem serem de bach mas de baco, e a desditosa acreditada chifruda –num carnaval é bem provável – arremessou o pobre do tamborete contra seu respeitável corneador que baianamente saiu de baixo e... hélas! o tamborete, pra não perder a viagem, saiu pela janela e se esborrachou contra a cabeça do pobre cidadão que não portava adereços que aliviassem o choque como o pm que caminhava ao seu lado de capacete e tudo. resultado: os dois foram enviados para a delegacia nos barris enquanto o tamboretado, com os miolos à vista, foi direto para o hospital onde ainda se encontra entre a morte e cama perpétua. é carnaval! Mas não foi um caso de violência do carnaval. foi violência doméstica perpetrada por uma psicoterapeuta endoidada de ciúmes.
ministros, governadores, cantores e autoridades aproveitaram o “Liberou geral” e entraram em cana... dura. nada de 51, 25 ou talagada. o negócio falava o antigo celta dos irlandeses e escoceses. em alguns casos, um inglês arrevesado do tenessee. meteram o pé na jaca. azinabraram-se e, assim, não viram nenhuma violência, não viram nenhuma segregação. a festa popular não é do povo! é dos blocos, é das cordas, é dos cordeiros. a rede blogo exagerou na crítica, mas foi pertinente. afinal, quem morreu, morreu durante o carnaval. indo ou voltando, dentro ou fora. mas as “otoridades” acham que não. estão certos também. um sargento apunhalado por um aspirante estava no espaço protegido pelas cordas do bloco as muquiranas que acabara de desfilar e, portanto, não estava carnavaleando. estão certas as “otoridades” e estão erradas as câmaras de tv e os repórteres de rádio e de jornal. ponto para as otoridades! vamos eliminar estas aspas que estão enchendo o saco! o carinha que morreu em ondina com dois balaços na cabeça foi vítima de sua encrenca com o atirador. também, quem manda querer disputar ponto de drogas? o pessoal do ridejanêro já tem até cartilha ensinando que isto não é saudável. e a menina que levou uma só por estar perto do carinha? também está entre a morte e a cadeira de rodas eterna sem ter nada a ver com o peixe. em ambos os casos, estão certas as otoridades: o primeiro, que viajou pra goiás no ato, tinha uma rixa e, mesmo dentro do circuito, a motivação foi outra. a menina, também no circuito, foi um caso de muito tesão no gatilho: o cara atirou em um, gostou de ver que tinha acertado e foi conferir se ainda tinha pontaria para acertar mais um. típico caso de prática do tiro ao pombo. quanto mais se acerta, mais se quer acertar. certas as otoridades. mais ponto para elas. e menininha de 9 anos que faria dez no dia seguinte? o que houve? ela não estava no circuito carnavalesco. voltava dele. “acaso!” dizem as otoridades. certíssimas! afinal, se ela voltava do carnaval, o que tem a ver o sul com salsa?
as otoridades estão certas. no primeiro dia de folia, somente no circuito barra/ondina foram mais de oitocentos registros de agressões. violência? não. divergência de opinião resolvida numa troca de sopapos ou facadas. nada muito sério. apenas com algum sangue. ou tentativa de colaborar com a fundação hemoba sem o conhecimento que doação de sangue tem necessariamente que ter (gostou da construção?) equipamento para coleta e que sangue no asfalto quente ou molhado de nada serve. nossas otoridades têm conhecimento e sabedoria de sobra. o carnaval não foi violento. as pessoas o foram. o poder o foi. exageradamente. pra que melhor do que (não) rever aquelas cenas de policiais conduzindo uma sessão de pancadaria explícita sobre um jovem (negro e provavelmente pobre) lá pelas barras do (circuito) barra/ondina? melhor do que alugar filme pornô! vai ver o garoto falou alguma coisa sobre as mães de todos eles! e aí não foi violência policial. foi apenas o troco de alguém que se sentiu profunda e moralmente atingido naquilo que lhe é mais caro: a honra. principalmente da genitora. certíssimos. pena que não ouvimos uma única palavra do rapaz. apenas os seus gestos pedindo um tempo para se explicar. mas, explicar o quê? que o carnaval não é violento. que os blocos o são na medida em que exigem um poder aquisitivo razoável pra comprar abadás e assim adquirir o passaporte para o infernal paraíso que é estar encordoado entre trocentos decibéis de som e besteiras ejaculadas e defecadas por sangalos, psiricos (o que é isto, afinal?), lélis (em pares) béis (plural de bel?), margareths (menezes, não thatchers) e cambada. essa violência faz da festa mais popular do planeta (guiness book of records) a mais excludente do universo. e, o que é pior: em meio a esse povo todo que eu consegui enxergar, não estava você. quanta violência!