na rua, na chuva ou na fazenda

quinta-feira, julho 31, 2008

lula, os pinguins e o subúrbio

eu sou algo assim meio tímido, inteligência capenga, humor meio noir. não tem jeito, por ser o meu jeito. mas tenho alguns amigos ótimos. nada tímidos, inteligentes tanto que beiram o brilhantismo ou que o ultrapassam - se é que podem fazê-lo - léguas e léguas e de humor sagaz, afiado e até histriônico. assim o são meus parcos amigos. engraçado é que, depois de postar um brogue falando (escrevendo, ó idiota!) do êxodo dos pinguins de magalhães na suicida tentativa cabraliana de (re) descobrir o brasil da parte de cima - que culminou e ainda vai culminar em tragédia para muitos deles à semelhança do aconteceu com alguns gajos lusitanos que aqui foram comidos, literalmente, pelos selvagens habitantes destas plagas que, séculos depois (pelo menos em jauá) continuam do mesmo jeito, recebí alguns elogios e muitos apupos. na verdade, não foram apupos mas tão somente comedidas observações acerca do substantivo masculino que utilizei para localizar a quase idílica - não fossem as bombas dos pescadores - praia da ribeira que, por sua vez, fica encravada na península itapagipana que, também por sua vez, encrava-se alguns engarrafados quilômetros distante da fervilhescência do centro da cidade (leia-se barra, graça, avenida sete, daquele trambolho modernoso chamado palhácio tome de souza e etc etc etc). reclamaram eles que a quase paradisíaca (não fossem as bombas dos pescadores) ribeira não é subúrbio. sentiram-se provavelmente humilhados diante de tamanho rebaixamento ou de tão vil comparação à pra lá de quase paradisíaca (não fossem os esgotos a céu aberto e às bombas do pescadores - parecem praga - suburbanos) praia do tubarão, no longínquo são tomé de paripe; sentiram-se minimizados na suburbância de compará-los à beleza mesmerizante (apesar dos esgotos, da lama, da pobreza e da guerra surda travada entre traficantes) que é a enseada do lobato sob um luar de plenilúnio ou ainda de um coruscante por de sol em vermelhos e amarelos (a miséria, ajudada pela natureza, também produz maravilhas para os olhos enquanto entristece a alma). o melhor de tudo é que o suburbano lobato imerecedor da comparação fica bem ali ao lado da ribeira que resiste a se juntar à comunidade suburbana. têm razão, os ribeirinhos: afinal, lá é o único lugar da urbis onde ainda existe uma segunda-feira gorda (magérrima, nos dias de hoje) quando as pessoas sentam-se nas amuradas, nas mesas de bar e fazem o que sabem fazer de melhor a semana inteira: nada! empanturram-se de comidas ditas leves (mocotós, feijoadas, rabadas, peixadas, moquecas e sambas - agora ridículos pagodes) que fazem um bem terrível a donos de farmácias de outros lugares. mas isto é muito bom porque é típico de lá. um ribeirinho ou ribeirano ou itapagipense que não vá a uma segunda feira gorda merece, sim, ser taxado de suburbano. passei dez, doze, quinze anos da minha vida na condição de suburbano no quase paradisíaco (não fossem as quadrilhas que infestam o lugar) principado (ou república livre) de itapuã. puro subúrbio. nu e cru. itapuã, stella mares, flamengo, aleluia, paripe, periperi, coutos, ribeira (valei-me, deus!) tudo isto é, orgulhosamente, pelo menos para mim que os vejo belos, subúrbio. alguns cheios de charme -leia-se, dinheiro - outros de pobreza, mas a beleza está nos olhos de quem vê. não de quem escreve bobagens tamanhas como essa aí acima, reiterando a condição suburbana e maravilhosa da quase divina (não fossem as bombas dos pescadores) ribeira.
mas, tudo bem. uma das pessoas a quem eu mais respeito na vida quase se acabou de rir ao ler a postagem anterior. pura condescendência de fada madrinha.
em tempo: subúrbio: s.m., do latim suburbiu - localidade próxima de uma cidade e que depende desta; arrabalde; arredores;redondezas; cercanias ou proximidades (de cidade ou povoação).
portanto, a ribeira é, sim, suburbana!

quarta-feira, julho 30, 2008

lula, os pinguins de magalhães e a reforma aquária

repercutiu muitíssimo bem nos sete mares a bombástica declaração do presidente luizignatiuslulalelédasilva anunciando a decisão (muito sóbria) de realizar – agora que já temos (?) reforma agrária – a reforma aquária! e o melhor de tudo: o anúncio foi feito na quase paradisíaca (não fossem as bombas detonadas pelos pescadores) praia da ribeira, subúrbio quase encantador da capital da bahia. agora, o que se entende por reforma aquária? será criado um ministério dos mares (não da marinha pois este já existe) que mapeará as regiões aquáticas para fins de divisão? ou será apenas uma secretaria especial como aquela do futuro que é governada pelo mangabeira (argh!) unger que se dedicará a estabelecer limites entre águas produtivas e improdutivas para que os peixes grandes latifundiários tenham que rever seus conceitos e posições de modo a beneficiar pititingas, sardinhas, chicharros (grafei certo?), peixes-palhaço e camarões todos minifundiários e, claro, potenciais alvos dessa genial reforma.
o anúncio repercutiu tão bem que o the big reef journal of gossips, prestigioso e prestigiado hebdomadário da grande barreira de corais australiana publicou em manchete com letras garrafais o decreto brasileiro e cobrou das autoridades recifenses (os grandes tubarões brancos) medida semelhante naquelas águas.
mas, como é práxis em brasilha, a bem intencionada reforma aquária luliana, antes de ser anunciada com pompa e circunstâncias na quase idílica ribeira soteropolitana já havia vazado com a precisão de uma operação sathiáguara da polícia federal da antártida.
sabedores da intenção, graças à inteligência gelada lá do calcanhar (a outra palavra é menor mas é... digamos assim, escatológica e não pegaria bem num brogue tão sério quanto este) do mundo, pingüins de magalhães (estreito de magalhães, patagônia, argentina) se fizeram n’água alguns meses atrás e, pelo menos quinhentos deles chegaram ao litoral baiano pelo menos quinze dias antes do anúncio presidencial. imaginem em que praia a maioria aportou? ribeira, claro.
alguns se perderam e foram parar em sergipe, três outros foram ainda mais desafortunados ou então foram simplesmente irresponsáveis quando, embasbacados pela beleza do litoral norte da bahia e já fora de rota, resolveram que antes de ver e ouvir a alvissareira notícia, deviam fumar unzinho lá pras bandas de jauá e, como novidade, tornaram-se protagonistas de um estranho churrasco no quintal de um pescador. pingüim no bafo tem gosto de quê? expliquemos aqui a razão dessa debandada geral pinguiniana lá de magalhães. além do fato de se localizar na patagônia, geopoliticamente o lugar é portenho e apertadíssimo. tanto que o seu nome é “estreito de magalhães”. pelamordedeus não vão pensar bobagens anatômicas! já que o estreito é estreito e como brasil, grande, largo, imenso, descomunal, gigantesco, colossal, formidável etc etc e etc está se propondo a fazer uma “reforma aquária” para onde nuestros hermanos (pingüins ou não, são argentinos!) iriam? mesmo nos detestando historicamente, onde eles todos acabam fazendo a vida (no bom sentido, claro!)? acá, em brasil! então vieram todos aqueles possíveis para a realização do sonho impossível dos brasileiros da parte de cima - e que os da parte de baixo fingem não saber que existem a não ser quando saem de férias ou é carnaval -: conhecer, de verdade, em penas, bico e ossos um pingüim sem ter precisado morrer de frio.

quinta-feira, julho 17, 2008

(des) caminhos

onde começou a estrada que terminou em nós dois?
em que fim de estrada começamos o caminho de volta?
se volta houve, onde iniciamos o começo?
onde chegamos ao fim?
em algum lugar, em algum momento, começamos.
em algum lugar, em algum momento, chegamos.
onde? no começo? no meio? no fim?
estradas talvez até não tenham começos nem 'fins'
talvez sejam apenas 'estradas' a todos os lugares...
a lugar nenhum...
são apenas começos, vislumbres de um fim
ou um fim que não se reconhece começo.
onde terminou a estrada que começamos em nós?

quinta-feira, julho 03, 2008

couraça

a minha solidão é pesada
não tem a menor complacência
e dói em quem a percebe.

me envolvo nela como couraça fosse
como útero carinhoso
para não me sentir

na minha solidão
não amo menos nem mais
não me dou e nem recebo

e cercado assim pela minha muralha
nem tão chinesa assim
vivo somente aquilo que há pra viver