na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, agosto 17, 2021

a (minha) grande família


nesses tempos estranhos em que amigos velhos e novos se voltam uns contra os outros por questões meramente de simpatia e não de ideologias, acabei por descobrir um mecanismo fantástico para mensurar a temperatura político/ideológica do país sem precisar recorrer a institutos de pesquisa ou de construir um cercadinho para juntar uma claque: olhar e ouvir a minha própria família.

os membros mais ativos desse meu macro universo são dois filhos e um irmão: bolachinha, pudim e tonga. na outra ponta, o resto todo, inclusive eu, que me reputo um zero à esquerda nessas questões e noutras também.

bolachinha, rechonchudo e bonachão, de um bom humor arrevesado e contagiante é a ponta mais afiada desse pedregulho residente na sola da minha chinela. radical intransigente, reproduz fidedignamente tudo aquilo que recebe de sites, de redes, de sinais de fumaça ou de quaisquer outros meios de comunicação ou que saia das hostes do palácio do pranalto. e ponto final.

pudim, espigado e mal humorado como todo e qualquer barnabé - embora barnabé diferenciado por se dedicar a ajudar a salvar vidas - é, digamos, um pouco mais transigente; um pouco mais tolerante (menos quando se trata de mexer na sua cota de cerveja ou no seu holerite). mas aceita discutir; o problema é aceitar opiniões diversas.

tonga, o estofo intelectual desse tripé familiar é, de longe, o mais complicado por reunir as qualidades dos dois anteriores e aglutiná-las às suas. isto faz dele o sal da terra. sujeito simpático e bonachão, é uma mistura de marco rogério e eduardo girão (senadores da república) e j.m.bolsonaro. negacionistas de quatro costados.

os três, como boa parte da gente dessa terra brasilis, defende com unhas, dentes e canhões o defenestramento de ministros, o retorno de atos autoritários e, sobretudo, o brasil acima de tudo e deus acima de todos (ou seria o contrário?)! não aceitam, sob nenhuma hipótese, argumentos contrários. mitos (e míticos) eles próprios, endeusam o "mito" e desconstroem a verdade. tem razão. até porque a verdade, verdadeiramente, pertence a cada um que a diga como tal. 

vivendo sob o signo do câncer - apesar de nascido sob o de touro - divirto-me vendo a minha família se dividir como nação. divirto-me vendo deputados, senadores et caterva se digladiando tornando política uma crise humanitária e tornando desumana uma tragédia eminentemente humana.



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