na rua, na chuva ou na fazenda

segunda-feira, abril 18, 2016

o perigo de se pedalar na republica brasiliana

nunca morri de amores por aquela senhora que se aboleta no palácio do planalto central e que seus admiradores - mesmo os mais letrados - apelidaram de "presidenta". também não morro de amores pelo sorriso vampiresco do sujeito escolhido para ser o seu segundo e que, por isso mesmo, ocupa um outro palácio planaltino. menos, bem menos ainda, pelo carioca representante-mor da vagabundagem política que se tornou rotineira no país. simpatias à parte, o espetáculo grotesco oferecido na tarde/noite deste domingo (que alguns pressupõem histórico) na câmara dos deputados, lá em brasilha, me deixou num estado de depressão digno de um sujeito que começa a subir o cadafalso.

no caso da tal senhora, vai que o problema dela não é a sua arrogância contumaz, não é a sua incompetência como gestora ou sua submissão ao seu criador. deve ter sido, simplesmente, o peso monstruoso do crime cometido contra a língua portuguesa quando pespegaram-lhe nas costas o aposto de "presidenta". uma palavra "monstra". Deixemos de lado as questões linguísticas e de personalidade até porque não tenho sequer resquício de especialização para tais julgamentos.

o espetáculo proporcionado por cunha e seus pares foi, como disse lá em cima, deprimente. até mesmo para um sujeito razoavelmente bem humorado como eu. pra começo de conversa - e já estamos no meio dela - não entendi a razão dos 30 segundos para se dizer "sim" ou "não". ninguém respeitou o cronômetro. todos tinham necessidade de homenagear entes queridos não importava se vivos ou mortos, cidades, vilas, vilarejos e, quem sabe?, animaizinhos de estimação. isto sem contar com as inúmeras citações de cunho religioso. eu não imaginava, nem de longe, que a câmara dos deputados era tão ciosa da presença do onipotente até ontem. nunca, na história deste país (lembra, lula?) o senhor de todas as coisas foi tão lembrado. um certo cantor de axé que se metamorfoseou de pastor evangélico soltou a pérola das pérolas: "a soberba 'procede' a queda" disse o tal. eu sempre soube que "preceder" é uma coisa e "proceder", outra. no entanto, nesses tempos de novidades como a palavra presidenta...

mas não foi só ele que nos brindou com essas coisas. houveram muitos outros. então, deixemo-lo de lado. pior mesmo era ter que assestar o olhar na cara de eduardo cunha e notar a sua indiferença, a sua impavidez diante daqueles que, dedo em riste, apontavam-no como mentor de toda a pantomima apenas para garantir a sua sobrevivência sob o sol de brasilha e do rídejanêro sem ter de vê-lo nascer quadrado sob os olhos amendoados do japonês da federal. o sujeito não mexia um músculo sequer a não ser aqueles responsáveis pelo esgar de cinismo proporcionado pelo risinho de canto de boca com que ele, de vez em sempre, nos brindava. o desprezo que ele deve ter pela moral deve ser do tamanho do universo. e seu exército? teve até um dos seus capitães que profetizou a sua entrada para a história do brasil. só não disse por qual porta.

enfim, apesar de todas as homenagens, beijos enviados com atraso ao filho esquecido, saudações a martin luther king que, se vivo fosse pediria pra morrer outra vez e odes a lugares recônditos sempre citados como "minha terra amada" e etecétera e tal, ficou claro como as águas do rio doce que em, brasilha, no que se refere a política, é muito, muito perigoso andar de bicicleta.




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