na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, dezembro 01, 2015

o martírio de rocinante ou de como se faz política e rádio na bahia


lembra do célebre cavalo de dom quixote, aquele chamado de rocinante? pois bem, um dos seus descendentes - pelo menos no que se refere ao gênero - acaba de se tornar o pivô de uma guerra política neste estado de espírito chamado bahia. como? quando? porque? bem, vamos começar do começo porque é sempre bom começar a se contar histórias desse jeito.

há, com uma certa tradição, uma feira agropecuária no parque de exposições de salvador, capital da bahia. o parque, como tal, não existe. é apenas um descampado enorme com alguns galpões cobiçado por especuladores imobiliários, construtores e dirigentes dos movimentos sociais vários que brotam em nosso país como flores de maio em abril. além de se prestar para shows de axé-evangélico-meigospel-music onde todos se rebolam louvando, ora a bunda ora a jah, javé e outras divindades menos, digamos assim, populares.

"forró do cardeal" o mártir da fenagro, valia 200 mil 
voltemos ao que interessa: o martírio do cavalo. começou, no último domingo, a tal da feira. e já no acender das luzes, o cavalo, provavelmente desavisado e sem se utilizar de e.p.i. algum acabou levando um choque na suíte-baia-barraco onde se hospedava e partiu célere pra goiás. pra quê? criou-se, a partir do acidente, uma luta ferrenha entre a prefeitura e o governo do estado (sucom x seagri) tendo como árbitro um conhecido apresentador de rádio e tv. a sucom, fez o primeiro movimento ao anunciar orgulhosamente o embargo imediato da feira.

acusando o pontapé na linha do gogó, o governo escalou seu mais traquejado atacante e revidou com um decreto (segundo alguns, ditatorial) desembargando o embargo e mandando o evento continuar como se nada houvesse ocorrido. aí entraram em campo outros contendores: dois deputados, ambos ex-qualquer coisa e absolutamente antagonistas, um, federal, defendendo o uso dos animais como há séculos o homem faz e o outro, estadual, totalmente contrário e considerando que um animal também é gente, dentro da filosofia magriniana - ramo pseudo filosófico ambiental criado pelo ex-ministro antonio rogério magri -  quer proibir até os vaqueiros de montarem seus cavalos e corram atrás do gado num ato de extrema crueldade para com esses pobres e inocentes seres.

aí entrou em campo um outro contendor para desempatar o baba: outro deputado (federal), irmão de um outro ex-ministro, perdeu preciosos passos no check-in do aeroporto onde voaria (a esta altura, já voou faz tempo) para, por telefone, acusar o governador de estar querendo provar que é mais macho que o prefeito, de estar deixando que "este chão é meu, nem boi lambe nem macaco trepa" ao desembargar tão bem feito embargo e que, caso outra tragédia tão trágica quanto a que vitimou o pobre do equino, campeão de várias jornadas e com mais filhos espalhados do que pelé em seus áureos tempos, seria réu como co-autor de homicídio (?) culposo.

e nesse teatro de pecuaristas, adentra o gramado ou relvado, mais uma vez, o tal apresentador. desta feita como um mediador: "foi um cavalo, sim senhor, senhor secretário (estava lá também o secretário de segurança que entrou de gaiato na contenda) mas, não existe o valor de amor sentimental?" disparou. meu deus, me acuda.

o pior é que a feira ainda vai durar a semana inteirinha e novos embates virão. eu nem me arrisco a dizer que tudo isto por causa da morte de um cavalo para que não me envolvam ou me processem. aliás, eu já corro o risco de ser processado porque citei apenas rocinante quando comecei este post. e os outros cavalos famosos dos quais nem toquei nos nomes a exemplo de pégaso, bucéfalo, baloubet de rouet ou até mesmo incitatus, do imperador romano calígula? a sorte que tenho é que todos eles já estão tão mortos quanto este que se tornou o mote para uma briga política, à exceção de pégaso que era e é apenas uma lenda, um mito grego e baloubet de bouet que, embora verdadeiro como o que morreu, eu não sei por onde anda depois de perder um torneio por uma refugada mal dada. falando nisso, qual era mesmo a cor do cavalo branco de napoleão?

enquanto isso, no olimpo lá do planalto central, atenas e zeus jogam seus dados para ver quem vai entrar na barca de caronte e embarcar para o hades. façam suas apostas porque, ao cabo e ao final, seremos todos perdedores.

3 comentários:

  1. Muito bom, vc é muito talentoso Carroberto!

    Nesse meio de campo, sugiro um novo texto que aborde a problemática das férias, licenças e afins dos servidores públicos estaduais. Afinal, nessa disputa de quem é mais macho...

    ResponderExcluir
  2. A morte do "pé de pano" é tão grave quanto a briga em Brasília. Parece que as energias estão mal distribuídas na Bahia, e também no Brasil. Depois de desviar milhões para contas na Suíça em nome de todos os familiares (que Deus o perdoe); depois do "rombo" nos cofres da Petrobras, vai sobreviver quem tiver mais força e uma mentira mais convincente, aliado aos meios de comunicação, para convencer, não o povo, mas entre eles mesmo.

    ResponderExcluir
  3. A morte do "pé de pano" é tão grave quanto a briga em Brasília. Parece que as energias estão mal distribuídas na Bahia, e também no Brasil. Depois de desviar milhões para contas na Suíça em nome de todos os familiares (que Deus o perdoe); depois do "rombo" nos cofres da Petrobras, vai sobreviver quem tiver mais força e uma mentira mais convincente, aliado aos meios de comunicação, para convencer, não o povo, mas entre eles mesmo.

    ResponderExcluir

manifeste-se a respeito