na rua, na chuva ou na fazenda

sábado, setembro 17, 2011

ovelhas sobre rodas

rodoviários param a cidade em mais uma manifestação 

ciclicamente, em períodos cada vez mais curtos, a população de salvador é assolada pela epidemia das “manifestações-relâmpago”.  manifesta-se contra e a favor de tudo. no entanto, a mais notória e letal de todas elas é a dos rodoviários. cientes de que são a base de todo o movimento físico da cidade, esses profissionais fazem dos habitantes de soterópolis e também daqueles que por ela passam, gato e sapato. manobram-nos como querem, levam-nos onde querem nas suas paralisações. não há profilaxia conhecida contra isto. na verdade, há. no entanto, não é aplicada. por quê? pergunte a deus pelos meus pecados.

paradoxalmente, ao fazer do populacho massa de manobra, tornam-se, os rodoviários, a própria massa. isto porque, desapercebidamente alguns e espertamente conscientes outros, deixam-se manipular por outros rodoviários. aqueles do topo da cadeia  político-econômica que a tudo move, que a tudo guia. até mesmo suas paralisações. elenquemo-los pois enquanto subcategoria são apenas dois: aqueles que, apoiados pelo apoio maciço dos seus companheiros, já não sujam as mãos de graxa, nem acordam madrugada ainda para sentar atrás do volante para ouvir gritos do tipo “ô pé de isopor, acelera aê qui tou atrasado pro trampo!” e os outros, aqueles cujos salas envidraçadas não permitem a entrada da fumaça negra dos escapamentos ou o burburinho dos ônibus lotados.

os primeiros, como seu eterno presidente j. carlos e outros entrincheirados no sindicato da categoria fingem lutar contra o patronato (o segundo – do qual falaremos já) em busca de melhorias laborais. os segundos, são os patrões que, embora empresários, não deixam de ser uma subespécie de rodoviários já que são os donos dos ônibus, fingem defender melhoramentos nos serviços prestados e para isto, defendem aumento de tarifas. 

para consumo externo, se digladiam. por trás dos vidros fumês de restaurantes, salas de reunião ou spas, confraternizam e buscam maneiras ainda mais eficazes de atazanar a vida dos usuários do seu sistema em busca de lucro. fazem da massa, massa de manobra contra autoridades e assim fazendo, os primeiros – os rodoviários que pegam no pesado – também são manobrados. e poucos deles se dão conta disso. a prova é a sempre maciça adesão a qualquer convocação.

como ovelhas, obedecem. e como lobos devoram nossa paciência, nosso bom humor e, ao fim e ao cabo, nossas economias quando com suas vitórias, nos deixam a mercê de aumentos de tarifas. e assim, enfileiram-se ao lado dos vencedores muito embora, como nós, sejam eternos vencidos. nós por não termos alternativas senão a de arcar com o custo da ganância daqueles de terno e gravata e eles – operadores destes – por, no final, perderem de nós o olhar complacente com que sempre vimos suas lutas.

esta semana, eles – os de terno e discurso e os que pegam no pesado – voltaram ao ataque e fizeram de nós, outra vez, gato e sapato. a motivação? os tais rodoviários (quais deles?) consideram abusivo o número de multas aplicadas pelo órgão competente contra as empresas – a maioria – e contra os profissionais (por infrações de trânsito das mais simples às mais graves). e nós? já fomos punidos com horas a fio parados nas avenidas esperando pela contra-ordem emanada dos pastores dessas ovelhas sobre rodas chamadas de rodoviários.      
  

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