na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, janeiro 17, 2007

felicidade? feli...o quê? como? quando? onde?

não me lembro bem de quanto cheguei a ser feliz. devo ter sido, algumas vezes. estas, provavelmente tão raras que acabei jogando-as em algum canto escuro das minhas lembranças.
“bela maneira de se começar um texto para postar na internet e um monte de voyeurs ficarem fuçando suas intimidades” me diz aqui de sobre – e de dentro – da minha cabeça aquilo que uns intelectuais fróidianos rotulam de consciência. deixemo-la então, de lado. Ainda mais porque, neste momento, neste caso, não quero tê-la. talvez a queira por perto qualquer outro dia, qualquer outro momento. não neste. não agora. inclusive por querer me permitir ser visto de uma forma como nunca permiti. real. inteiro. de dentro pra fora. fazer dos meus sentimentos vísceras e mostrá-las como numa cintilografia. talvez assim – hoje eu estou phodinha nos ‘talvez’ nem eu mesmo estou me agüentando – consiga domar o imbecil que é o meu alter ego ou superar a minha incompetência de preservar aquilo ou aqueles que mais me importam um pouco mais perto de mim.
chega de enrolação e voltemos ao princípio: essa coisa de não me lembrar de ter sido feliz é um tanto quanto mentirosa e reticente. a bem da verdade – bela expressão! – não consigo alcançar esse conceito “felicidade”. o que é afinal? seria aquele susto imenso e um rápido calafrio quando, sob um sol escaldante em um janeiro qualquer se consegue ouvir o próprio nome gritado acima da algazarra que é a saída da procissão do senhor do bonfim em pleno largo da conceição da praia numa cidade festeira e festiva chamada salvador? não. não deve ser isto pois foi breve demais e dizem que felicidade entra que nem furacão e inunda que nem tsunami. ainda assim, a despeito da brevidade do que foi, foi bom demais da conta.
então vai ver que, já que não foi o momento acima descrito, essa coisa deva ser então muitos breves beijos – hoje chamados de ‘selinhos’ – na azáfama do carnaval dessa mesma cidade chamada salvador, na maior correria, sob o mesmo sol escaldante, sob olhares risonhos de espectadores já mais do que acostumados a cenas iguais – eu é que não estava pois estava acontecendo comigo e, por incrível que possa parecer, sou recatado, pudico, sim...tímido! – e por isso mesmo nem estranhavam. não. não deve ter sido. dizem que beijos, mesmo selinhos, fazem pipocar estrelas, luzir tochas...nada disso ocorreu. vai ver que foi culpa da luz do sol pois estava ofuscante. mesmo assim, eram bons demais da conta.
ou então, e isto realmente deve ter sido a tal da felicidade, ouvir, em momentos variadíssimos, a voz, sentir a preocupação, sentir o prazer que chegava a travar a garganta de tão grande que era (lembra como a garganta parece que se fecha e fica um gostinho salgado quando a gente ameaça chorar?) só de ficar ouvindo a voz... não. não deve ter sido. não foi mesmo.
ou, quem sabe, foi ficar olhando olhos nos olhos, falando bobagens, no jardim de um museu, esperando uma sessão de cinema. também não era e não foi. mas foi e era coisa de outro mundo. apenas um parêntesis: cometi a heresia de andar de mãos dadas, trocar beijos em restaurantes...pintei o sete! acho que aí eu cheguei bem perto desse tal negócio. mas ainda - quanta exigência! – não o era na essência.
já achei! eureka! finalmente! ei-la: foi na primeira noite! dormir com promessa de apenas dormir, descansar e nada mais e descobrir que só dormir seria impossível e derrubar de vez a barreira de uma década foi algo como a queda do muro de berlim ou das torres gêmeas do world trade center e acordar de tudo isto quase sem ter dormido e descobrir que não fora um sonho e fazer tudo outra vez. será que foi? não sei. acho que não. foi maravilhosamente bom demais da conta mas não ainda felicidade.
quer saber? felicidade com letras maiúsculas e sólida como rocha foi estar na ilha de maré e embora houvessem todos, só havíamos nós, só havia você. ali foi felicidade pura. acredite, cheguei a ser feliz. isto é felicidade!? isto foi a felicidade? não. não foi. mas eu devo ter sido feliz. muito feliz. conosco. enquanto éramos nós. feliz demais da conta nesses e em todos os outros momentos vividos e que, quando me lembro, me vem aquele gosto de salzinho lacrimoso apertando a garganta e a boca esboça um sorriso muito embora os olhos se tornem represas. definitivamente, eu fui feliz. muito feliz. não demais da conta. mas, bastante. no entanto, como tudo que é bom, durou quase nada.

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