na rua, na chuva ou na fazenda

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

as vaquinhas do brasil

eita povo bom demais da conta, esse povo brasileiro! bondade infinita, talvez maior do que a do criador. benemerência pura, até a alma. e o que dizer do altruísmo desse povo que não pode ver o seu 'parecero' numa pior que corre a se cotizar pra levantar a moral do pobre coitado? ainda que essa moral tenha o mesmo cheiro do esgoto-rio que corta salvador da bahia e deságua no costa-azul tornando o mar de uma cor assim indefinida quando a memória ou a imaginação não encontram comparativos, esse povo é solidário.

agora, amigo velho, sou de um tempo que a gente se cotizava, fazia vaquinha e coisa e tal mas era pra arrumar uns trocados pra ajudar um coitado que nem nós mesmos a comprar uma lata de leite ninho (epa, tou fazendo merchandáisin de graça!) que tinha uma ninhada de filhos do tamanho de um time de futebol com alguns reservas na boca de espera. ou pra dar um adjutório pra ajudar a levantar uma tapera de outro que a taipa não aguentou a chuvarada e etc e tal. mesmo assim era coisa de uns - estourando - quarenta, cinquenta, cem contos (tanto faz cruzeiro, cruzeiro real ou real porque dinheiro é sempre dinheiro) agora, vaquinha de um trezentos, seiscentos mil e até milhão pra dar pro sujeito que, apesar de ser do partido dos trabalhadores, de trabalhador não tem nada... fica ruim, compadre. fica muito ruim.

eu, da minha parte, não dei nada. até porque não tenho nada pra dar e ainda tenho de me esconder do povo
lá do imposto de renda que todo começo de ano mete a mão no meu bolso sem a menor cerimônia. daqui mais uns dias, eles tão batendo na minha porta.

pra falar a verdade, me dá uma gastura sem fim quando olho a desfaçatez de zé genuíno fazendo caras e bocas pedindo prisão domiciliar definitiva e aposentadoria por invalidez na câmara dos deputados. me dá ziquizira quando leio nas folhas que zédirceu recebe oferta de emprego com salário de 20 mil contos e que o outro lá, o delúbio - que também entrou com lista de vaquinha - tá empregado de partido, associação ou coisa que o valha, com salário de mais de 4 mil. todos foram julgados e condenados pelo stf.

sou de um tempo em que condenado é condenado e, portanto, tem mais é que cumprir sua pena e saldar a sua dívida social seja lá de que peso for e não ficar por aí de cuia na mão e a conta bancária mais gorda do que uma porca e ele, se fazendo de inocente, puro e besta. é demais pra mim.

mas não é demais pro resto da companheirada que se veste de vermelho e bota uma estrela na roupa ou na testa e subscreve essas listas que, a bem da verdade, só tem o propósito de nos envergonhar.


vai ver que é por isso que o zédirceu, depois de ter recebido mais de um milhão de reais, postou em letras garrafais a sua ironia (finíssima, por sinal): obrigado, brasil!!



ainda bem que desse brasil, eu me orgulho de não fazer parte.

2 comentários:

  1. Heitor Guerra6/3/14 11:04 PM

    Pois é. Aqui está um qualquer em um lugar qualquer lendo as últimas quatro postagens deste blog e bem no bico do urubu. Uso as maiúsculas após os pontos e me encanto com as minúsculas após eles. Poeta é poeta, filósofo é filósofo e orquídeas são orquídeas, são orquídeas, são orquídeas... Vivo as palavras dos outros porque me identifico e porque não me identifico e então, aprendo. Exercito-me como cavalo, com prazer e o urubu (aliás, o estar em seu bico) me dá um alimento como um tira gosto agridoce: Delicio-me. Valeu!

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  2. carlos alberto11/3/14 1:22 PM

    tens razão, heitor: poeta é poeta. o resto, é pura prosa.

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