na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, novembro 06, 2013

setembro negro, outubro roxo... novembro azul?

ando meio dolorido... aliás, não ando. pelo menos no sentido literal do verbo andar. tenho andado pouco ou quase nada, por ainda sentir dores provenientes de uma recente intervenção cirúrgica que, definitivamente, mudou a minha vida. tanto física quanto conceitualmente.

tudo começou com exames médicos pré admissionais de rotina quando um dos resultados apontou para um nível acima do tolerável do psa - o antígeno específico da próstata. aí veio a exigência da perícia médica que  avaliava este escriba magrelo, de coração claudicante que agora ostentava uma bandeira amarela sinalizando atenção para algo ao qual jamais destinei sequer o mais ínfimo dos cuidados.

beirando os 60 na quilometragem, uma "cabeça aberta" e "bom nível cultural", este liberal aqui, foi formado no preconceito - na verdade, medo - machista de jamais ter sido visitado "naquele lugar". e essa formação se solidificava ainda mais no pensamento de que tudo pode acontecer - e acontece - com os outros. até o dia 20 de setembro de 2013. até o alerta dessa noz de carne que faz parte do complexo masculino das "jóias da família". biópsia feita, virgindade de macho perdida e resultado mais do que previsível.

aí o medo de morrer superou a coragem de macho irascível - já subjugado - e encarei o caminho tornado por mim mesmo bem mais difícil antes que fosse muito, muito tarde.

em recuperação do procedimento, de fato muito doloroso, a minha confiança se eleva aos píncaros e cai por terra numa facilidade imensa. amigos continuam as mesmas brincadeiras de sempre quando o assunto é dona próstata mas agora percebo que por trás do "já tá sentando direito?" se esconde o terror irracional que cada um carrega consigo e deixa vazar nas gargalhadas que agora percebo serem lágrimas, pedidos de socorro.

eu também sou, era, fui assim. outros amigos que também passaram ou passam pelo mesmo processo - e eu nem sabia! - me ligam, me contam detalhes, me dão dicas de como controlar os pingos incontroláveis até então reservados apenas como um troféu exclusivo para as cuecas a despeito de todas as sacudidelas possíveis. Estes, como eu e como aqueloutros, sofreram o pão que o diabo amassou escudados e condenados pelo preconceito da mesa de bar, da roda dos pares, do "fulano não é mais aquele".

de setembro para cá muita coisa mudou, muita coisa ainda vai mudar. eu devia ter mudado bem antes. mudaria algo?

apesar do fatalismo da pergunta, a resposta é muito simples: mudaria,sim. mesmo que não mudasse o destino (e lá vem fatalismo!) mudaria a minha forma de me ver e de ver a vida.
"devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. devia ter arriscado mais e até errado mais..." devia, mesmo. no entanto, como a própria música diz, eu pensava que o acaso iria me proteger enquanto eu andasse - ou fingisse andar - distraído. não deu certo.

o acaso me fez, sim, mudar meu pensamento, minha atitude, meus conceitos. em tempo? não sei. tarde demais? também não sei. mas pelo menos me deu alguns dias de reflexão entre um setembro negro, um outubro rosa e um novembro... quem sabe, azul?

meu resultado de biópsia pomposamente chamada de análise anátomo-patológico daquela que se esconde na nossa vergonha de nos reconhecermos frágeis na fortaleza de machos e acaba se transformando no nosso maior pesadelo, sai no dia 11. até lá, continuarei vivendo. e mudando. espero que para melhor.
*certo. concordo que esta postagem está bem piegas. ando meio assim.


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