na rua, na chuva ou na fazenda

terça-feira, junho 28, 2011

mais uma de barretin!

como sempre, posso me vangloriar de poder repetir neste blog, a verve do poeta escrevinhador zé de jesus barreto. o texto a seguir foi publicado no jornal de maior circulação da bahia, o "a tarde" (escreve-se com maiúsculas, hein!) de uma terça-feira, 28 de junho (vixe! 29 é aniversário da minha filha, vanessa! quantos anos, filha?).
p.s.: não toquei numa vírgula sequer. não tenho intimidade pra tanto.

O arraiá curturá
de nossa capitá



Vagueio errante pelas ruas vazias da cidade no feriadão junino e perguntas martelam: O que estamos fazendo de Salvador, afinal, o que queremos para nossa capital, a primeira do Brasil? Nas praças, sob viadutos e marquises da Avenida Sete, principal artéria do dito Centro Antigo, molambos humanos dormem ao sol, desfigurados, ou embrulhados em cobertores imundos que lhes ocultam a identidade. Parece que ninguém mais se dá conta desses trapos, tropeçamos e nem olhamos.
Vi o Terreiro de Jesus, a Praça da Sé, a Praça Municipal e ruas do Pelô ocupados por palanques, toldos, barracas de lona coloridas imundas, fios e equipamentos de som, mesinhas e cadeiras de plástico, isopores, engradados, tabuleiros, ambulantes, artesanato de má procedência, vagabundos, pedintes, sacis, trabalhadores também, é claro, e turistas branquelos zanzando sem compreender bem aquilo tudo em volta... Igrejas centenárias fechadas, o casario escondido pelas bandeirolas óbvias, a Sé Primacial abandonada, lixo e cheiro de mijo encardido, o Rio Branco, o Elevador, o Thomé de Souza, a Câmara, cadê? “Um armengue, um brega!’, arrematou o negão em bom baianês, indignado com a bagunça. Mas é ‘de gratis’, solta os foguetes!
História, cultura... tudo é forró. São João, Xangô menino, o santo das fogueiras, o orixá do fogo e da justiça, lembra? O foco é o negócio, o patrocínio, a mídia, os números arranjados do balanço final do ‘arraiá’. Feito o estrago, a faxina, sobra o quê? O mesmo Centro Histórico com cara de ressaca e abandono. Já sabem qual a vocação do Pelô? Shopping, prostíbulos, artes, bodegas, pousadas e moradores... quem? O Pelô resiste pela insistência de Clarindo, a briga de Aninha Franco, o Olodum, Gandhi, meia dúzia de lojistas e restaurantes, a corda no pescoço. Acudam! Por Santo Antonio, São João, São Pedro, São Francisco, os caboclos do Dois de Julho, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ! Oremos. Nossa Mãe Preta quer cuidados! Não consigo pregar os olhos, entristecido.

Zédejesusbarreto, jornalista e escrevinhador (27jun/2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

manifeste-se a respeito