na rua, na chuva ou na fazenda

sexta-feira, janeiro 04, 2013

imagens de 2013: quantos brasis existem em nós?

2013 mal começou e já nos traz imagens genuinamente brasileiras para nos dar a exata dimensão de como somos múltiplos em caráter. para ser mais humildes, coisa que não somos de jeito nenhum (vide o hino nacional tonitruante e ufanista!), baixemos essa multiplicidade para dualidade.


voltemos os olhos para as imagens e sua história. posse de josé genoíno na câmara dos deputados. o pt orgulhosamente apresenta sua mais nova arma na guerra surda que trava contra o supremo tribunal federal provocada pelos desmandos de antigos defensores dos frascos e dos comprimidos que se deixaram seduzir pelo canto de sereia da grana que entra fácil e enriquece mais fácil ainda e cujo único subproduto é a perda total da dignidade, do respeito e da honradez. genoíno, genuinamente travestido de mártir da justiça, adentra o palco numa pré-estreia chamando um jornalista de "torturador moderno". lembrava-se dos velhos tempos quando ainda vestia a indumentária de cruzado na luta pela democracia, justiça e direitos que, nos tempos de agora, ele próprio solapa e golpeia. e ameaçava: "com você eu só falo depois da posse!". cai o pano.
no dia seguinte, em grande estilo, secundado por seus coadjuvantes - em verdade, patrocinadores de peso - novamente adentra o palco. desta vez, leva consigo como um amuleto, um patuá contra o mau olhado aqui nominado como joaquim barbosa ou stf, a constituição brasileira. vale lembrar os `versos íntimos` de augusto dos anjos (1884-1914). genoíno leva a constituição brasileira na mão. podia estar levando um rolo de papel higiênico.

deixemos brasilha, feudo de sua majestade augusta luizignatiusluladasilva primo et uno agora praticamente invisível como crocodilo submerso à espera da inocente e sedenta presa que em algum momento vai sucumbir à sede e aí, companheiro...

no ridejaneiro, as chuvas de verão voltam a assombrar. do alto dos seus palácios ou das cabines blindadas dos seus carros oficiais condenam a resistência daqueles que, ano após ano, tragédia após tragédia, preferem permanecer em suas casas e, quem sabe, engrossar as fileiras de desabrigados, as listas de desaparecidos ou mortos a perder o teto sobre a cabeça mesmo quando e se o céu, o morro e a insensibilidade humana cairem sobre ele. condenam, mas nada fazem até que o fato aconteça. aí então, os discursos lacrimejantes e cheios de decisão e apelos são absurdamente plenos de comoção, piedade e do melhor que nós humanos (?) temos em algum recôndito de nós.

no suburbano xerem, a tragédia carioca sempre anunciada se consumou para muita gente. em meio a escombros, lama, árvores tombadas, gritos e lamentações, um personagem conhecido de todos - e para quem, alguns torcem os narizes chiques - corria como um louco pelas ruas do distrito sobre um quadriciclo. molhado e enlameado até os ossos, olhar desarvorado, zeca pagodinho entrava em cena nesse outro teatro.
distante dos holofotes grandiosos de brasilha, sem se remeter à constituição, à bíblia ou seja lá a que tipo de muleta moral costumamos nos remeter, fez o que esperamos que todos façam (mas nem sempre cobramos de nós próprios): exerceu a sua cidadania, mostrou o melhor do ser  humano.

jessé, chamado zeca. josé, chamado genoíno. zeca pagodinho e `zé` genuíno. ""...dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada brasil!  
 
em tempo: genoíno, ao contrário de zeca, não está sozinho. tem muitos outros com ele lá em brasilha. ele é apenas a estrela mais brilhante nos céus do planalto central nesses dias de verão e aguaceiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

manifeste-se a respeito