dita pacífica, a paralisação dos policiais militares baianos foi, na verdade, violentíssima. isto porque, desde o seu nascedouro rasgou a constituição e nos violentou a todos ao nos manter presos na bolha escura do terror.
ainda assim, havia uma certa legitimidade. não no movimento em si mas naquilo que ele se propunha a reivindicar. mas aí é que entra o surreal: os milhares de policiais que nos emparedaram no medo assim agiram espicaçados, insuflados por um desejo de dois ou mais sujeitos ditos "seus representantes".
na retórica desses "representantes" dos senhores fardados, a luta era por dignidade na profissão, respeito no trato e honestidade nos contracheques e etc e etc e etc. por trás da retórica aprendida com um certo barbudo repugnante 27 vezes nomeado 'doutor honoris causa' em universidades mundo afora, havia e há um outro fator: as eleições de outubro próximo quando os dois principais protagonistas do movimento vislumbram a possibilidade de galgar um outro patamar em suas carreiras.
estrelado no galardão de capitão, o deputado estadual tadeu fernandes sonha com o clima seco de brasilha
. sonha refestelar-se num gabinete do congresso nacional com seu nome inscrito na porta sobrecimado ou antecedido pelo aposto "deputado federal"; por seu turno, marco prisco, ainda que desprovido de galardões - era soldado do corpo de bombeiros e perdeu essa condição ao ser expulso da corporação - mas tornado vereador da soterópolis depois de um movimento semelhante ao que deflagrou na semana passada, quer deixar de ser um simples edil de província e tornar-se um rotundo frequentador do cafezinho e da cantina da assembleia legislativa da bahia. para isto, era preciso mesmerizar, como um edir macedo dos quartéis, aqueles que, novamente em tese, teriam a mesma origem profissional que eles. e conseguiram. conseguiram com o canto da sereia de uma quartelada que prometia mundos e fundos.
aos olhos da tropa, a greve teve toda razão de ser. e teve, para ser justo. afinal, nossos policiais estão entre os que tem as piores condições de trabalho, salários indignos e nenhuma possibilidade de crescer profissionalmente. no máximo, acena-se-lhes com a possibilidade de um enterro com honras militares num cemitério da periferia que é onde a grande maioria habita. isto fez com que se transformassem facilmente em massa de manobra para prisco e tadeu fernandes. isto fez com que fechassem os olhos e, em alguns casos, a consciência para o que estavam fazendo com os sem farda que, indiretamente, ajudam a lhes pagar o parco salário.

depois da churrascada comemorativa, fernandes e prisco retiram-se para um descanso no paradisíaco mas nem tanto assim litoral norte da bmp (perguntem à torcida do bahia o que significa a sigla!) e os outros, que sempre serão os outros, de pança cheia e consciência do que é coletividade zerada, para o seu paraíso particular nas quebradas do mundaréu.
sexta-feira santa. abre-se um novo capítulo desse dramalhão: prisco é preso por crime federal. tadeu nem pisca pois a prisão de prisco já era contada de priscas eras. apenas atrasou um pouco. escala-se como o defensor dos frascos e dos comprimidos e anuncia um novo aquartelamento. a cidade, o estado, estremecem e uma nova onda de pânico começa a tomar vulto. horas depois, novamente com a intervenção divina, desta vez travestida de uma magistrada - que também está de olho no caminho de santiago das urnas. aborta-se o armaggedon.


o deputado que quer fazer um upgrade na carreira segue capitalizando a visibilidade ganha e tem, na prisão do seu pupilo, a grande ferramenta para se manter canalha enquanto se disfarça de líder.