na rua, na chuva ou na fazenda

sábado, novembro 16, 2013

goleiros não são craques?

relegado à exiguidade do quarto e ao (des)conforto dos travesseiros, dediquei-me com afinco a ver... televisão. em todas as horas e minutos e segundos disponíveis. aí comecei a ver um programa sobre futebol. jogadores exímios fazendo malabarismos com a bola e sem ela. sempre com os pés. todos sempre chamados de 'craques' e aí me veio uma pergunta que deve, imagino eu, povoar o imaginário e os divãs de psicanalistas futebol afora: goleiros não podem ser craques?

aí, num intervalo, saiu a história dos mandados de prisão expedidos contra dirceu, delúbio, genoíno, jefferson et caterva (citados aqui em ordem alfabética, não em desimportância). chorei, deveras, chorei. copiosamente, chorei mais ainda pelo dirceu, forçado a abandonar o paradisíaco - para quem tem grana - sul da bahia e ter de voltar de jato executivo para sãpaulo afim de protagonizar as cenas impactantes e dramáticas que lhe caberiam nesse pastelão. chorei pelos outros também. até por uma questão de justiça, de equanimidade. todos, todos merecem minhas lágrimas.

nesse espetáculo sem luzes e cores, mas espetáculo assim mesmo, brilharam algumas pérolas da retórica imbatível engendrada pelo partido de luizignatiusprimoetuno. dirceu -sem marília e por isso mesmo, uma mágoa só, tascou uma "carta ao povo brasileiro" que...valha-me deus! uma peça primorosa! do quê, eu não sei. mas primorosa. genoíno foi um pouco mais econômico, mas não ficou pra trás e largou sua bolotinha também. textos diferentes mas absolutamente, essencialmente iguais. o partido, ah! o partido também largou lá o seu pedacinho. nunca, na história deste país, tão poucos foram tão injustiçados assim.

dramáticos, os meus dois principais astros nesse drama (dirceu a anos-luz de genoíno na minha benquerença), brandiram seus punhos fechados e elevados aos céus - lindo gesto! - reforçando a retórica impressa: brado retumbante! como sou adepto a um control c, control v do pensamento alheio, não perdí tempo. então, antes que se esfumace como um sonho esse sonho de feriadão, vamos, primeiro reler, zé genoíno que atônito se perguntava para nos provocar a reflexão o que houvera feito de tão ruim e concluía dizendo ter sido "condenado previamente em uma operação midiática inédita na história do brasil". levantem-se e aplaudam-no até às lágrimas!

dirceu, por isso é o meu preferido, fiel ao seu estilo, disse a mesma coisa com muito mais estilo, com muito mais glamour: “O julgamento da AP 470 caminha para o fim como começou: inovando - e violando - garantias individuais asseguradas pela Constituição e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário. A Suprema Corte do meu país mandou fatiar o cumprimento das penas. O julgamento começou sob o signo da exceção e assim permanece. [...] É público e consta dos autos que fui condenado sem provas. Sou inocente e fui apenado a 10 anos e 10 meses por corrupção ativa e formação de quadrilha - contra a qual ainda cabe recurso - com base na teoria do domínio do fato, aplicada erroneamente pelo STF.[...] Não me condenaram pelos meus atos nos quase 50 anos de vida política dedicada integralmente ao Brasil, à democracia e ao povo brasileiro. [...] Esta é a segunda vez em minha vida que pagarei com a prisão por cumprir meu papel no combate por uma sociedade mais justa e fraterna. Fui preso político durante a ditadura militar. Serei preso político de uma democracia sob pressão das elites. [...] Ainda que preso, permanecerei lutando para provar minha inocência e anular esta sentença espúria, através da revisão criminal e do apelo às cortes internacionais. Não importa que me tenham roubado a liberdade: continuarei a defender por todos os meios ao meu alcance as grandes causas da nossa gente, ao lado do povo brasileiro, combatendo por sua emancipação e soberania”.

é caso pra esquartejamento! tiradentes fez bem bem menos e deu no que deu! deixemos esse pensamento que você acabou de ler de lado - foi apenas um surto - e voltemos ao caso, o partido da estrela vermelha e que no meio do caminho da sua história perdeu o fio da meada ao descobrir o valor da moeda, estrilou no mesmo estilo mas, o melhor estava por vir: a declaração de ignatius! 

único a ficar de fora de toda a trama - até porque nunca viu, nunca ouviu, nunca soube de nada - o inocente puro e besta ignatius foi curto e grosso ao colocar a cereja do bolo numa chamada telefônica para os companheiros: "estamos juntos!" mentiu. como sempre. mas essa é uma mentira do bem, embora vá manchar, para sempre a sua imaculada biografia. se bem que...

bom, os demais não deram declarações tão marcantes, tão lacrimogêneas e portanto não entrarão neste 'post' a não ser tangencialmente, como é o caso de henrique pizzolato que, até por uma questão de genealogia, capou o gato e já está na itália dos seus antepassados, que ele não é besta. para o avatar de lula, que atende pelo inacreditável "presidenta", nada disso está acontecendo. como seu criador, a criatura prefere passar ao largo e nem toca no assunto embora todos lhe sejam muito próximos. tão próximos que podem ser ignorados. presidencialmente.

pois, então, cabe aqui a pergunta excruciante que pontua a crise existencial dos fanáticos por futebol: porque goleiro não pode ser chamado de craque?


quarta-feira, novembro 06, 2013

setembro negro, outubro roxo... novembro azul?

ando meio dolorido... aliás, não ando. pelo menos no sentido literal do verbo andar. tenho andado pouco ou quase nada, por ainda sentir dores provenientes de uma recente intervenção cirúrgica que, definitivamente, mudou a minha vida. tanto física quanto conceitualmente.

tudo começou com exames médicos pré admissionais de rotina quando um dos resultados apontou para um nível acima do tolerável do psa - o antígeno específico da próstata. aí veio a exigência da perícia médica que  avaliava este escriba magrelo, de coração claudicante que agora ostentava uma bandeira amarela sinalizando atenção para algo ao qual jamais destinei sequer o mais ínfimo dos cuidados.

beirando os 60 na quilometragem, uma "cabeça aberta" e "bom nível cultural", este liberal aqui, foi formado no preconceito - na verdade, medo - machista de jamais ter sido visitado "naquele lugar". e essa formação se solidificava ainda mais no pensamento de que tudo pode acontecer - e acontece - com os outros. até o dia 20 de setembro de 2013. até o alerta dessa noz de carne que faz parte do complexo masculino das "jóias da família". biópsia feita, virgindade de macho perdida e resultado mais do que previsível.

aí o medo de morrer superou a coragem de macho irascível - já subjugado - e encarei o caminho tornado por mim mesmo bem mais difícil antes que fosse muito, muito tarde.

em recuperação do procedimento, de fato muito doloroso, a minha confiança se eleva aos píncaros e cai por terra numa facilidade imensa. amigos continuam as mesmas brincadeiras de sempre quando o assunto é dona próstata mas agora percebo que por trás do "já tá sentando direito?" se esconde o terror irracional que cada um carrega consigo e deixa vazar nas gargalhadas que agora percebo serem lágrimas, pedidos de socorro.

eu também sou, era, fui assim. outros amigos que também passaram ou passam pelo mesmo processo - e eu nem sabia! - me ligam, me contam detalhes, me dão dicas de como controlar os pingos incontroláveis até então reservados apenas como um troféu exclusivo para as cuecas a despeito de todas as sacudidelas possíveis. Estes, como eu e como aqueloutros, sofreram o pão que o diabo amassou escudados e condenados pelo preconceito da mesa de bar, da roda dos pares, do "fulano não é mais aquele".

de setembro para cá muita coisa mudou, muita coisa ainda vai mudar. eu devia ter mudado bem antes. mudaria algo?

apesar do fatalismo da pergunta, a resposta é muito simples: mudaria,sim. mesmo que não mudasse o destino (e lá vem fatalismo!) mudaria a minha forma de me ver e de ver a vida.
"devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. devia ter arriscado mais e até errado mais..." devia, mesmo. no entanto, como a própria música diz, eu pensava que o acaso iria me proteger enquanto eu andasse - ou fingisse andar - distraído. não deu certo.

o acaso me fez, sim, mudar meu pensamento, minha atitude, meus conceitos. em tempo? não sei. tarde demais? também não sei. mas pelo menos me deu alguns dias de reflexão entre um setembro negro, um outubro rosa e um novembro... quem sabe, azul?

meu resultado de biópsia pomposamente chamada de análise anátomo-patológico daquela que se esconde na nossa vergonha de nos reconhecermos frágeis na fortaleza de machos e acaba se transformando no nosso maior pesadelo, sai no dia 11. até lá, continuarei vivendo. e mudando. espero que para melhor.
*certo. concordo que esta postagem está bem piegas. ando meio assim.