na rua, na chuva ou na fazenda

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Ave, Ignatius!

eu bem que gostaria de postar um 'brog' de fim de ano. assim - como diz a nova safra de 'jornalistas' egressos da facom e de tantas outras escolas - , meio meloso, desejando a todos tudo de bom, falando do novo ano e edicéteraetal. mas não deu. precisando saudar o nosso novo imperador ignatius augustus da silva primus et dominus e o seu lugar-tenente geddelius limus secundus (até tu, ó brutus!) deparei-me, ó miraculoso correius interneticus! com um texto mais mesquinho que o meu, mais redondo que o meu, mais cínico que o meu, mais canalha que o meu, mais irônico que o meu e, acima de tudo, mil vezes melhor que o meu, assinado por zédejesusbarreto, emérito (valhei-me futuro são ivo lorscheider, cujas exéquias nem bem se acabaram e já pretendem torná-lo santíssimo) jornalista cujo nome é, acima de tudo nordestino (zé. zé é o máximo do nordestinismo que o augusto Ignatius sacudiu da pele). e decidí, sem a devida vênia, transcrever neste espaço. que ele me perdoe e não me processe e, se processar, não vai ganhar nem os trocados necessários pra pagar o rango no mini-cacique do hispanobaiano lula (cruz credo mangalô trêsvezes!). aí está a transcrição ipsi leteris do texto zébarretiano e a todos um (tomara) feliz ano novo. e isto vale pra dom cappio, pro rio são francisco e pra todos nós:

Lula já morreu há muito!


Lula morreu. Foi o que disse o franciscano bispo católico Dom Cappio, um sonhador. Constatou o falecimento do Lula trabalhador, nordestino, pobre, sindicalista, líder e esperança de uma massa de desamparados brasileiros durante (ou depois de) sua quase auto-imolação, num jejum de mais de 20 dias em defesa do rio São Francisco, de seus ribeirinhos e contra o mega-projeto do governo federal de transposição das águas do Velho Chico para alguns estados nordestinos mais ao norte, a pretexto de matar a sede real de uns e a fome de dinheiro e negócios de outros.

Leio e me esforço para entender como é que vão gastar bilhões pra levar água em canaletas sertão acima no intuito de aplacar a seca do Ceará, Paraíba, Pernambuco... e não são capazes de amenizar a agonia de milhões de brasileiros/nordestinos que nesse instante de inclemência do sol deste verão 2007/08 morrem de sede e de necessidade, por absoluta falta de um caneco d’água, a poucos quilômetros de distância de uma margem e outra do rio que vem de Minas e corta a Bahia de sul a norte, descambando pro leste atlântico. Há anos, décadas, milênios que é assim e essa história dom Cappio é ciente, mais que todos nós. Quem conhece os cafundós de Bom Jesus da Lapa, Xique-Xique ou Chorrochó (Xorroxó né mais bonito?) sabe do que estou falando.

O nosso bispo só demorou muito para perceber a morte de Lula, enforcado pelo sistema, envenenado pelo Poder já há muito tempo.

Daquele velho Lula identificado com o sofrimento dos desprotegidos quase nada resta, nem mesmo na aparência física. Talvez a falange do dedo mindinho devorada pela máquina voraz de fazer dinheiro. Uma dolorida e proveitosa lembrança. Os cabelos revoltos estão bem penteados, a barba crespa do sapo barbudo foi aparada, os dentes que fazem o sibilar dos effes e esses estão bem alinhados, as rugas disfarçadas, a retórica redirecionada... Enfim, daquela impávida e nova liderança popular que nos emocionou nos tempos de luta contra a ditadura e o coronelismo tupiniquim restou uma sombra bem retocada pela força da máquina do que chamávamos de “establishment”.

Lula morreu, constatou o bispo. Tardiamente. Não é de hoje que eu já havia me dado conta de sua “passagem”.
Quem assumiu na cola de sua sombra foi o Sr Luis Ignácio, Dom Luis Ignácio, quem sabe até Doutor Luis Ignácio – um novo e prepotente coronel de estilo caudilhista, de linguajar populista, irritadiço ou gracejador a depender da ocasião e objetivo, postura sempre prepotente, rico sim senhor, implacável com os inimigos e benevolente até o acoitamento com os amigos “companheiros”, vaidoso e sabido o suficiente para usar e abusar do marketing e do assistencialismo mais primitivo para se perpetuar como o “grande timoneiro” das massas, porque, como repete a cada instante, “ nunca antes na história deste país” houve alguém tão, tão, tão, como ele, o próprio. “Ah , espelho meu, espelho meu, em 2010 ou 2014 haverá alguém tão bonito quanto eu?”, pergunta-se a cada dia diante da penteadeira de Dona Marisa botox.

Lula morreu há muito, corintianos!


Só o pessoal do PT militante faz que não quer ver que o presidente é outro, muito mais identificado com os interesses dos banqueiros, dos grandes negócios globalizantes, das grandes madeireiras, dos ricos agro-negociantes, dos usineiros, dos insaciáveis empreiteiros, dos incansáveis lobistas de Brasília, muito mais focado em se firmar como líder continental, num empura-empurra patético com o milico Chaves – aquele que posa de vermelho para enganar as massas que sempre levantaram a bandeira anti-ianque.

Ora, de sertanejo nordestino o sr Luis Ignácio não guarda nem mais o sotaque. Hoje ele é um homem de negócios e interesses. Grandes negócios que passam, é claro, pelo Poder, que se consegue através de votos, de eleições, que são ganhas com um bom discurso, com boa polêmica, sem dar trégua aos adversários e, por quê não, boas receitas assistencialistas... Essa nossa república foi construída comprando-se votos, com favores, benefícios, chicote, promessas ou recompensas. Salário mínimo e leis trabalhistas transformaram o ditador Getúlio Vargas em “pai dos pobres”, está na história. Algum provável candidato à presidência, mesmo sendo contrário, teria coragem hoje de criticar o “bolsa-família”, que tem levado milhares de jovens nordestinas a emprenhar seguidamente para obter o benefício, filhos famintos nos braços?
Ah, nisso o Doutor Luis Ignácio é muito bom, sempre foi, ninguém é melhor do que ele,
até porque, ao invés de ficar alisando a bunda em bancos de escola, passou a melhor fase de sua vida brigando, defendendo posições, barganhando, discursando, polemizando, fazendo greve, resistindo, convencendo, disputando espaço, cargos, poderes. Ninguém no PT, nenhum outro político na recente história desse país soube ou sabe como ele fazer esse jogo político.

O presidente Luis Ignácio vive do culto a Lula, o finado. Ele cultua o mito, com sabedoria.

Por favor, não me queiram mal, acho até que o governo do doutor Luis Ignácio teve e tem coisas bem positivas, pontuais. Como outros também tiveram. Até mesmo os milicos da ditadura obtiveram seus êxitos, aqui e ali, sobretudo em momentos econômicos favoráveis. É só passar as páginas da história com os olhos desanuviados.

Mas o pobre (de verdade) missionário franciscano dom Cappio tem razão: Lula morreu!

Quanto às águas do São Francisco... se é que algum dia elas serão suficientes e de fato transpostas, poderão chegar a algum lugar... só não acredito que possam molhar o bico dos milhões de catingueiros que o Geddel apregoa. Aliás, com aquela pança e aquelas bochechas rosadas o que é que Geddel entende de sertão e caatinga, pelo amor de Deus?
Que o nosso padim padre Ciço nos proteja de tanta aleivosia.


zedejesusbarreto, jornalista
natal/2007.

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